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Camões e Vasco da Gama “idolatrados” na Ilha de Moçambique

Por admin

Era uma vez, um grupo de excursantes que foi a Ilha de Moçambique, a cidade insular localizada na província de Nampula. Uns iam pela primeira vez e outros, já conheciam o local.

Como norma em muitos locais deste belo Moçambique, quando chega alguém, faz-se a recepção à moda local.

Chegamos e fomos recebidos por um grupo de doze elementos, entre eles, um homem e onze mulheres, cada uma linda à sua maneira.

O Mussiro aplicado pacientemente na cara, transparecia o hábito das mulheres daquela província. Sorridentes, lá estavam elas para alegrar através das coreografias e canções, os visitantes à Ilha.

Quando começaram a cantar, criaram impressão em nós. Entretanto, fomos prestando atenção ao que diziam, o conteúdo da letra. Oye Luís de Camões é uma das frases que se pode ouvir, saída daquelas beldades que quando cantam despertam atenção de qualquer um, presente por perto.

O certo é que elas cantam e dançam bem. Ainda bem que temos ainda pessoas que insistem e persistem no fazer o que dominam.

Não deixarei de dizer que me impressionaram, porque o fizeram. Entretanto, fiquei atordoado ao constatar que cantam, ovacionam, enaltecem Luís de Camões, Vasco da Gama. Dialogando comigo mesmo questionei porque é que isso acontecia. Não cheguei a conclusão satisfatória. E, em off, abordei uma das bailarinas no final da dança pretendendo saber porque é que eles cantavam sobre Luís de Camões. Ela foi directa ao responder dizendo: “ Temos as estátuas de Luís de Camões e Vasco da Gama, logo à entrada na Ilha. Quando vimos aquilo nos inspiramos e compomos canções falando deles. Como iremos cantar Eduardo Mondlane, Samora Machel, entre outros!!!! Senão temos cá estátuas deles?”

As palavras dela concentraram-me e me levaram à reflexão de que aqueles cânticos que são entoados para milhares de turistas, muitas vezes numa semana, num mês, podem significar exigência de estátuas dos nossos heróis por aquelas bandas. Mas ela acresceu mais dizendo: E se trouxerem, ou se um dia pensarem em nos trazer estátuas dos nossos heróis, que tragam boas estátuas de qualidade para que não sejam ofuscados por aquelas duas estátuas, as de Vasco da Gama e Luís de Camões. Como o senhor jornalista viu aquelas estátuas são antigas mas muito bem feitas.

Lembrei-me imediatamente do adágio popular defensor de que um povo deve ter cultura e referências para se fazer presente. E este cenário deve estar a acontecer em muitos outros locais. Obviamente, não pretendo com isso dizer que há necessidade e obrigatoriedade de se montarem estátuas em todos os lugares, até porque é de todo inaceitável. Contudo, desde a experiência da Ilha de Moçambique passei a defender a opinião de divulgação do nosso mozaico cultural, de informar e mostrar quem são os nossos heróis. Se se mostrar necessário fazê-lo erguendo estátuas, então que seja feito. Aliás, a propósito disso, lembro-me de em datas festivas, 3 de Fevereiro (Dia dos heróis moçambicanos), 7 de Abril(dia da mulher moçambicana), 25 de Junho (dia da Independência nacional), 12 de Agosto (Dia mundial da Juventude) sete de Setembro (Dia da Vitória), 25 de Setembro (Dia das Forças Armadas de Moçambique), entre outras, ouvir discursos completamente absurdos e inaceitáveis no que diz respeito ao significado destas datas. Mas acredito que ainda vamos a tempo de ensinar os nossos filhos sobre quem são os nossos heróis e porquê, assim como o significado das datas e respectivos feriados.

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