O Centro Cultural Universitário acolheu na última quinta-feira, o concerto do lançamento do disco Tributo a Alexandre Langa. Doze artistas estiveram em palco para interpretar doze temas inseridos no disco que reconhece, enaltece e homenageia um dos maiores compositores moçambicanos, Alexandre Langa.
Produzido pela Conga Música, o lançamento do disco teve um momento especial que consistiu na entrega, no palco, à família de Alexandre Langa, de um cheque de 112.500,00 Meticais, fruto da edição de 2.500 cópias do CD.
Izidine Faquirá, da Conga Música, produtor do disco, disse que “o CD Tributo a Alexandre Langa é editado com o objectivo de imortalizar a obra do compositor e criar sinergias entre os mais velhos e mais novos. O disco já está à venda ao preço de 500,00 Meticais e será comercializado, numa primeira fase, em Maputo, e posteriormente, nas outras regiões do País”.
Naima Valigy, directora de Marketing da TDM, um dos patrocinadores, afirmou que a empresa, acolheu favoravelmente a iniciativa de homenagear Alexandre Langa, pela passagem do 10º aniversário do seu desaparecimento físico. E fê-lo no âmbito da sua responsabilidade social corporativa. “A TDM financiou a produção e o lançamento do CD de Tributo a Alexandre Langa, por se tratar de um dos artistas incontornáveis na música ligeira moçambicana, tal como o fez, em 2013, na publicação da obra literária sobre o músico Fany Mpfumo” – disse Naima Valigy.
Gilda Jofane, directora de Imagem e Comunicação da Electricidade de Moçambique, também patrocinador , afirmou que o presente apoio resulta do comprometimento da empresa para com o desenvolvimento da cultura nacional. “Não poderíamos ficar alheios perante uma iniciativa destas, que homenageia Alexandre Langa, um músico de grande gabarito que cantou e encantou os moçambicanos”.
UMA PRODUÇÃO À ALTURA DO HOMENAGEADO
Cada passo para a gravação e edição do disco Tributo a Alexandre Langa foi feito ao pormenor, por forma que nada falhasse.
O primeiro passo consistiu na selecção dos músicos que iriam interpretar as músicas de Alexandre Langa. “Tivemos que olhar as qualidades dos músicos que tocam e cantam bem. Outros até que gostassem das músicas de Alexandre Langa. Todos os seleccionados engajaram-se bastante e o resultado é este produto”, explica Izidine Faquirá, produtor do disco.
“Alexandre Langa é um daqueles nomes que marcou presença forte depois da Independência. Passei a tocar a sua música com prazer. E mais do que tocar sua música foi vê-lo tocar e apresentá-lo em espectáculos”, afirma Faquirá.
Falando da temática que caracterizava as composições de Alexandre Langa, Faquirá disse: “ O amor era uma forma muito importante nas suas músicas. Falava com dificuldade e tocava com tristeza o facto de Ian Smith pretender destruir o nosso país. Falava da cultura e queria ver valorizado o artista. Depois da sua morte, julguei que fosse importante pegar nas suas músicas e incutí-las nos jovens. Isso tudo fazendo coincidir com os dez anos da sua morte que são brindados através deste disco”.
Várias pessoas contribuíram para que a ideia do disco de tributo se tornasse real. “Uma dessas pessoas é o Teodato Hunguana que criou formas de apoiar e abrir mais portas. Aliás, ele é um apreciador da música moçambicana por excelência. Nessa lista incluo António Alves Fonseca, da Golo, a pessoa que trouxe Alexandre Langa para Rádio Moçambique”, disse Faquirá acrescendo que os músicos envolvidos deram o seu máximo, incluindo os mais jovens que não conheceram Alexandre Langa.
Izidine Faquirá disse que a ideia de gravar as músicas e perpetuar seus criadores vai continuar. Na lista por gravar estão Salvador Maurício, Carlos Beirão, Fernando Azevedo,, David Mazembe, Francisco Mahecuane.
Diogo Langa, filho de Alexandre Langa, representou a família e disse: “Agradeço em nome da família, esta oportunidade. E quero dizer que a música moçambicana é a melhor do mundo. Agradeço a Conga Música por este reconhecimento e homenagem que faz ao meu pai. Que esta ideia seja feita para outros grandes músicos deste país. Não parem por aqui”.
MÚSICOS ENGAJADOS E SATISFEITOS
Vários músicos abraçaram a causa do tributo, tendo respondido positivamente ao convite de Izidine Faquirá. Nos dias 11 e 12 de Dezembro de 2013, gravaram ao vivo doze temas no Coconuts. Depois, o disco foi editado e masterizado na África do Sul.
Kutchata ni madala, Boxer, Smith wapepuka(cantado por Bernardo Domingos); Hoyo hoyo masseve (cantado por Sandra Isaías); Xikangalafula xa wansati (Roberto Chitsondzo); Mulumuzana (Fadir); Mugunda (Yolanda Kakana); Mavunwa (Wazimbo); Recordando Alexandre Langa (Muzila); Loku hi kuluma hi lirandzu (Elvira Viegas); Candogueiro (Pedro Miranda); Alunya (Dimas e Nando); Wa hidanissa (unku ti pasa manyazi – Em Nyungwe); Rosa Maria (Bob Lee), são os temas que compõem o disco Tributo a Alexandre Langa.
Para emprestar outro ar às músicas do Alexandre Langa, o disco foi gravado ao vivo no Coconuts. Os músicos não tiveram que seguir à risca a linha inicial de Alexandre Langa. Cantam, brincam com as vozes, introduzem novos instrumentos e mostram seus dotes em um trabalho que resultou num disco agradável de ouvir. Há uma miscelânea de ritmos e de culturas. Um dos destaques no disco é o facto de Sizaquel e Kaliza cantarem uma música de Alexandre Langa em Nyungwe, sendo o roiginal em Changana.
O disco, que é o segundo da série “tributos”da Conga, depois do de Fanny Mpfumo (2002), é patrocinado pela TDM, Sociedade do Desenvolvimento do Corredor do Maputo, EDM e Centro Cultural do Banco do Moçambique. Tem ainda o apoio da Golo e Rádio Moçambique.
O QUE DIZEM OS MÚSICOS PARTICIPANTES
Muita alegria, emoção e honra por puderem participarem em um disco de tributo a Alexandre Langa, é quanto se sentem os músicos que participaram na gravação da obra.
Alexandre Langa é imortal
– Wazimbo
A minha participação neste disco é acima de tudo, um reconhecimento e valorização do artista e sua obra. Alexandre Langa é imortal.
Meu saudoso colega no quarteto 1001
– Dimas
É uma oportunidade ímpar participar na homenagem a Alexandre Langa, meu saudoso colega no quarteto 1001. Revivi os momentos em que nos ensinava as técnicas de Mubatlanga.
Um dos nossos maiores nomes de sempre
– Elvira Viegas
Participar neste registo é uma singular oportunidade de recordar e perpetuar a obra de um grande trovador, compositor e intérprete. Um dos nossos maiores nomes de sempre.
Tinha domínio de vários instrumentos
– Roberto Chitsondzo
Celebrar a vida e obra de Alexandre Langa é um acto que nos enche de grande honra. Este Kid Munyamane, que tanto cantou sobre Chibuto, a terá do meu pai, inspirou-me. Admiro o seu domínio de vários instrumentos – viola – solo, saxofone-alto, flauta e voz.
Aumenta meus conhecimentos
– Sizaquel
Fazer parte deste disco aumenta os meus conhecimentos sobre a cultura moçambicana.
É um grande compositor moçambicano
– Kaliza
É uma grande honra interpretar uma música deste artista. Para mim, Alexandre Langa é um dos grandes compositores de música moçambicana.
QUEM FOI ALEXANDRE LANGA?
Segundo a biografia que nos foi facultada pelo então jornalista, Amâncio Miguel, que durante anos privou vários momentos com o músico, Alexandre Langa nasceu a 26 de Fevereiro de 1943, no distrito de Chibuto, província de Gaza. Filho de Amosse Langa, um carpinteiro que tocava timbila, e de Minosse Mulhanga, que tomava conta da família e não tinha a música na sua agenda, Alexandre cresceu num ambiente rural. Além do seu pai, na zona existiam outros tocadores de timbila e era comum ouvir-se música sul-africana em gramafones trazidos por mineiros.
Alexandre Langa deu os primeiros passos na música por volta de 1955, na escola primária, tendo como primeira referência o trovador Eusébio Johane Tamele. Dividia o seu tempo entre a escola, a pastorícia e a aprendizagem musical, uma agenda pesada para um menino de 12 anos, que se fosse independente optaria pela última actividade. Tal como outros meninos da sua zona, Langa usou uma lata de azeite, uma madeira e cordas de nylon para sozinho fabricar a primeira guitarra. Sozinho também aprendeu a tocar.
Após concluir a terceira classe e com o sonho de singrar na música, em 1959, Alexandre Langa deixou Chibuto para se fixar em Lourenço Marques (Maputo). Na grande cidade, trabalhou inicialmente como empregado doméstico e depois como dobrador nas oficinas do jornal “A Tribuna”. Mas o que mais queria era continuar a tocar. Procurou integração no circuito musical de Lourenço Marques, processo que foi lento e pouco animador.
Insatisfeito com a sua situação, em Março de 1963, Alexandre Langa trocou Lourenço Marques por Joanesburgo, na África do Sul. O seu primeiro emprego foi na secção de explosivos da companhia mineira Rand Leases, em Florida-Roodepoort, próximo de Soweto. Aqui, a música ocupa os seus tempos livres e rapidamente sai do anonimato, em particular nos convívios da companhia.
No ano seguinte, aconteceu a grande oportunidade para seguir a carreira musical. Numa tertúlia na Village Main, também em Joanesburgo, conheceu Fany Mpfumo, que já era músico profissional. Em pouco tempo, Fany apresentou-o aos gestores da gravadora EMI-His Masters Voice.
No mesmo ano, Fanny, acusado de ter cometido um crime passional, foi detido por três anos. Durante esse período, a EMI contratou Alexandre Langa para substituir Fany, uma oportunidade para trabalhar e gravar com Alexandre Jafete, Spokes Mashiane, Duke City Sisters, Ladysmith Black Mambazo, entre outros.
A primeira gravação a solo de Alexandre Langa aconteceu a 25 de Agosto de 1964, nos estúdios da Gallo, em Joanesburgo. Dessa gravação resultou o single “Xi sassenta”, um disco de 78 rpm, com o registo “usa 308”.
Em 1965, Alexandre Langa adoptou o pseudónimo Kid Munyamane (escurinho), por ser o menos claro entre os seus amigos e colegas. Usando este nome, publicou 14 singles em changane e um em zulu, e actuou na Namíbia, Swazilândia, Lesotho e Zimbabwe. Usou também o pseudónimo Samson the Lion Heart.
Além de cantar e tocar guitarra, Alexandre Langa despontou como saxofonista, fazendo valer os ensinamentos dados, na segunda metade dos anos 1960, por Spokes Mashiyane (popular flautista) e Ntemi Edmund Piliso (saxofonista que liderou o grupo African Jazz Pioneers). Dessa relação surgiu o seu melhor tema instrumental, “Jive Indian Jive”, lançado em 1967, no qual toca saxofone-alto.
Na África do Sul, as canções de Alexandre Langa foram marcadas por uma carga de nostalgia. É disso exemplo mais elucidativo o tema “Moçambique”, gravado, em 1971, com a participação das “Mahotella Queens”.
Alexandre Langa regressou a Moçambique, em 1973, na companhia de Fany M´pfumo, a convite do empresário Ricardo Barros. No ano seguinte, fundou o grupo “Sunlight” (também conhecido por ‘A Luz do Sol’ e ‘Quarteto 1001’) com Dimas, Matias Mazanaldo e Jorge Thovela. Entre 1976 e 1978, Alexandre Langa, além de tocar, trabalhou na APIE.
Em reconhecimento do seu talento, em 1978 foi convidado para fazer parte do Grupo RM, com o qual actuou sucessivamente na Alemanha, Bélgica, Holanda, Swazilândia e Zimbabwe. Em 1985 largou o “RM”, mas continuou funcionário da Rádio Moçambique, afecto ao Departamento de Produção Musical, vindo a reformar-se em Setembro de 1996.
Graças ao seu apoio aos ideais da revolução moçambicana, através da música de intervenção social, Alexandre Langa foi deputado da Assembleia Popular, e recebeu a Medalha de Nachingweia do 2º Grau, em 1984.
Alexandre Langa morreu, em Maputo, no dia 29 de Dezembro de 2003, e foi sepultado em Chibuto, a 2 de Janeiro de 2004.
LEGENDA:
1- Alípio Cruz actuando no concerto Alexandre Langa
2- Entrega do cheque ao filho de Alexandre Langa
3- Bob Lee, cantando alegre pelo tributo do Langa
4- Elvira Viegas num dueto sem igual com guitarrista Bernardo Domingos
5- Músicos que participaram na gravação do disco
6- Capa do disco que imortaliza Alexandre Langa
SUBLINHADOS
ØNa lista por gravar estão Salvador Maurício, Carlos Beirão, Fernando Azevedo,, David Mazembe, Francisco Mahecuane.
ØAlexandre Langa regressou a Moçambique, em 1973, na companhia de Fany M´pfumo, a convite do empresário Ricardo Barros. No ano seguinte, fundou o grupo “Sunlight” (também conhecido por ‘A Luz do Sol’ e ‘Quarteto 1001’) com Dimas, Matias Mazanaldo e Jorge Thovela.
ØALEXANDRE Langa tinha domínio de vários instrumentos – viola – solo, saxofone-alto, flauta e voz.
ØEm reconhecimento do seu talento, em 1978 foi convidado para fazer parte do Grupo RM, com o qual actuou sucessivamente na Alemanha, Bélgica, Holanda, Swazilândia e Zimbabwe.
Frederico Jamisse