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Aldino Muianga partilha memórias

Por admin

Caderno de  memórias, Volume II é o título do livro da autoria do escritor moçambicano Aldino Muianga, lançado na última quinta-feira, em Maputo.

O lançamento decorrido no Instituto Camões, juntou amigos, familiares e escritores, com destaque para a presença do Primeiro-Ministro, Carlos Agostinho do Rosário, amigo de infância do autor.

Com 202 páginas, a obra retrata os locais e momentos vividos pelo autor, desde a infância aos dias presentes.  Com o prefácio escrito por Calane da Silva, a obra foi patrocinada pela Mcel e BCI.

Este memorial do Aldino Muianga tem uma perticularidade, uma singularidade que deveras me animou e surpreendeu. Todos os episódios, todas estórias se desenrolam num contínuo narrativo, parecendo ter um fio condutor, uma sequência interelacionada dos factos contados, o que permite transformar cada capítulo num conto, ou melhor e a meu ver, todo conteúdo deste caderno de memórias num romance”, escreve Calane da Silva, no prefácio.

Carlos Agostinho do Rosário, Primeiro Ministro, esteve presente no lançamento da obra. No final disse: “Conhecí Aldino Muianga na infância. Ele sempre nos inspirou com suas histórias. Sempre buscava personagens reais para seus textos, escrevia coisas que vivia. A sua obra é boa. Ele, ao escrever, divulga os valores culturais de Moçambique para as pessoas saberem de onde viemos e para onde vamos”.

É UMA REFERÊNCIA DAS MAIS PRAZEROSAS

– Rosânia da Silva

Coube à Rosânia da Silva, a missão de apresentar a obra. Ela disse que o primeiro contacto que teve com um livro de Aldino Muianga, foi em 2006, quando o autor lançou  Contos rústicos.

O autor tornou-se para mim uma referência das mais prazerosas  e dignas de destaque na actual  Literatura moçambicana. Com um estilo simples e directo, ao estilo de quem conta histórias, Aldino Muianga cativa o leitor,  que não consegue abandonar a obra antes de saber o que aconteceu a cada uma das suas personagens, que, à semelhança do que acontece às personagens nas modernas telenovelas,  acabam por tornar-se como a pesssoa próxima de cada um de nós, o nosso vizinho”.

Ao apresentar a obra, Rosânia disse que a linguagem em Cadernos de Memórias é simples e cuidada. As histórias são narradas  num ritmo próprio de quem as conta para um ouvinte atento, aproximando-se da arte de narrar à volta da fogueira. “Escrita numa linguagem que permite a compreensão pelo mais simples dos ouvintes e ao mesmo tempo, pela clareza linguística e cuidado verbal, deleita os leitores mais especializados. Caderno de Memórias é assim um verdadeiro convite a uma leitura de fruição e prazer”.

A académica  afirma não saber  ao certo se devemos classificar a obra como contos ou, como diz Calane da Silva no  seu prefácio, um romance,  “cujas estórias se desenrolam num contínuo narrativo”.

O conceito de  caderno é visto por nós habitualmente como  algo ligado à ideia de escola, rascunhos, pois é onde habitualmente os estudantes tomam os seus apontamentos para posteriores estudos. O título faz-nos pois crer que o autor, em um momento longínquo da sua vida, que o  narrador localiza temporalmente no período colonial,  registou, em cadernos, dados sobre pessoas e situações vividas naquele período e que o autor procura retomar presentemente, distanciado do período temporal da vivência dos mesmos”.

É UM REGISTO DE UMA LONGA JORNADA

– Aldino Muianga, autor da obra

Aldino Muianga, autor da obra, explica que caderno de Memórias II, saiu primeiro, antes do Volume I. “Acontece mesmo numa família. Por vezes os mais novos casam-se antes dos mais velhos”.

O autor explica que  o livro “pretende ser um registo de uma longa jornada da memória pelos espaços de territórios que, aparentemente, se circunscreviam e colocavam fronteiras uns em relação aos outros, mas que constituíam uma unidade geográfica, cultural e social”.

Explica ainda que essa  unidade não se definia apenas pela exclusão dos bairros de cimento da cidade Lourenço Marques. “ Mas a unidade na diversidade das origens dos seus habitantes, na comunhão das suas múltiplas culturas, no enfrentamento de dificuldades comuns e na partilha das adversidades de cada um. Este é o subúrbio unitário  de ontem , salutar em muitos aspectos, escola donde aprendemos liçoes de luta e de sobrevivência, de humildade e de generosidade, de amor pelo próximo e pela justiça”.

Aldino diz ser a obra uma forma de contribuir. “ Estas são as nossas histórias, o meu contributo modesto para que as novas gerações nelas possam, nem que seja por alguns minutos, repensar em si, como os filhos e cidadãos  deste país e se reencontrem consigo mesmos. Porque , e cito aquele adágio popular africano – quem não sabe donde vem, não sabe quem é; e quem não sabe quem é, não sabe para onde vai”, lembra Aldino Muianga.

OBRAS DE ALDINO MUIANGA

Aldino Muianga, médico, tem vários livros publicados.  Xitala – Mati, contos(1987); Magustana, novela (1992), A noiva de  Kebera, contos (1994)- encenação do conto do mesmo nome pela Companhia Nacional de Canto e Dança;  A Rosa Xintimana, romance (2001)- Prémio Liiterário TDM; O Domador de burros, contos (2003)- Prémio Literário Da Vinci; Meladina ou a Estória duma prostituta, romance (2004); A Metamorfose, contos (2005); Contos rústicos, contos (2007); “Contravenção”, uma História de Amor em Tempo de Guerra”, romance (2008)- Prémio Literário José Craveirinha; Mitos, Estórias de Espiritualidade”, contos (2011); Nghamula, o homem do tchova, ou o Eclipse de um Cidadão, (2012); “ Contos profanos”, contos (2013).

Frederico Jamisse

frederico.jamisse@gmail.com

Foto de Inácio Pereira

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