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Abdil Juma: o eterno apaixonado pelo teatro

Por admin

Texto de Maria de Lurdes Cossa e Fotos de Carlos Uqueio

O actor e encenador moçambicano, Abdil Juma assinalou no presente mês, Novembro, 25 anos de carreira artística. Durante esse longo percurso realizou várias actividades teatrais. Escreveu mais de 100 peças e adaptou, principalmente de autores nacionais, uma quantidade não específica de obras.

De forma a “beber” de suas experiências e saber como foi alcançar as bodas de prata, domingo teve “dois dedos” de conversa com essa figura de destaque no teatro radiofónico.

Nascido há 50 anos em Maputo, Abdil Juma, cresceu no famoso bairro de Mafalala. Teve uma infância cheia de diversão e fez de tudo. Dançou a tradicional dança de Xigubo, a Makwaela, tocou Xingomana, entre outras coisas.

A sua inserção no teatro decorreu em 1984 quando passou a fazer parte dum grupo teatral que ensaiava no clube militar. Naquela altura costumavam apresentar-se nos bairros de Maputo, mas como simples amadores.  

Já em 1989 deu um salto qualitativo à carreira que tinha abraçado. Estreou-se para o teatro radiofónico a convite do seu amigo Bento Baloi. É nessa altura que entrei então para a Rádio Moçambique (RM) para gravarmos peças ao programa “Cena Aberta”. Nossa encenadora era, a grande atriz de palco e rádio, Maria Pinto Sá, disseAbdil Juma.

Conta que tudo aconteceu pouco tempo depois de ter frequentado com êxito um curso de Formação de Actores na mesma rádio.

Em Agosto de 1994 Juma é convidado a assumir o cargo de Coordenador e Realizador do programa radiofónico “Cena Aberta” onde tinha como tarefa principal: organizar todas as semanas as peças e os actores, orientar os ensaios e as gravações.

Por outro lado, tinha de assistir a sonorização e montagem das peças e produzir o ‘spot’ promocional do programa. Devendo igualmente garantir a formação de actores em matéria de rádio-drama.

Desde essa altura até os dias de hoje Abdil não parou, fez várias adaptações a partir de textos de autores nacionais e estrangeiros. Sendo que a maior parte das peças escritas por si foram as de intervenção social, pois o dia-a-dia é que o inspira.

O TEATRO RADIOFÓNICO

FOI UMA GRANDE APOSTA

No decurso da conversa Abdil Juma referiu que os 25 anos de carreira que assinalou são resultantes de luta, persistência e objectividade, que teve desde que se iniciou nesse mundo.

Acresceu ainda que valeu a pena ter apostado no teatro radiofónico porquehoje são visíveis os frutos de tudo isso. Ao longo do país, por onde ensinei actores como é que se fazia o teatro radiofónico, nota-se que este género permanece vivo. Isso é uma grande satisfação para mim.

É que quando Juma apercebeu se que o Teatro Radiofónico era a sua vida, decidiu trilhar diversos caminhos com um único objectivo: “Nunca deixar o teatro radiofónico morrer”. Assim, encetou contactos com várias rádios no sentido de convencê-las a acolher o projecto, mas, como as rádios que iam emergindo um pouco por todo o país, na altura, não tinham as condições desejadas para aquele género de teatro era cada difícil. Mesmo assim não desistiu até que foi acolhido pela Rádio Viva, onde durante um ano e seis meses produziu peças que foram transmitidas num programa denominado “Teatro Viva”.

A outra rádio que abraçou a ideia, um pouco mais tarde, foi a Mutyana. Assim sendo o actor, junto da sua equipa produziu e radiodifundiu algumas peças ligadas a problemática do “HIV” e “Boa Governação e Cidadania”.

Num outro diapasão nossa fonte fez alusão as dificuldades com que o teatro radiofónico se tem debatido. Segundo Juma há poucas rádios que apostam nesse género de teatro, nos últimos tempos temos apenas as rádios comunitárias a dedicarem-se mais, e isso é mau pois faz com que hajam poucos actores a pratica-lo.

Contudo mostra-se optimista em relação ao futuro desse género teatral. Acredita que pelo facto das Organizações Não Governamentais (ONG´s) procurarem o teatro radiofónico, com vista a disseminação de informação às comunidades, já é um indicativo dum crescimento e de que tem um bom futuro. Assim sendo o maior desafio é continuarmos a usa-lo para a educação cívica em várias vertentes.

CONTRA-CENAR COM MARIA PINTO SÁ FOI O AUGE

Mais adiante revelou-nos que, a peça que lhe marcou bastante foi a intitulada “Comprei-te ao Mar”, uma vez que, para além de ter sido uma das raras oportunidades de contra-cenar com a actriz Maria Pinto de Sá, teve a sorte de emprestar a sua voz a um personagem que representava a aristocracia (um Doutor) numa altura em que apenas estava habituado a interpretar personagens que retratavam os dumba-nengues, o polícia corrupto, o camarário oportunista. Para mim foi um símbolo de grande viragem na minha vida artística.

O outro grande momento foi quando sentiu que era possível fazer teatro radiofónico em outras rádios, o que descobriu quando pela primeira vez quando foi a Nampula para formar actores, aí senti-me bem pois percebi que afinal de contas era preciso deixar esse legado com os outros, afiançou.

UM CD DE CELEBRAÇÃO DA CARREIRA

No âmbito de celebração dos 25 anos de carreira, Abdil Juma lançou ainda um disco compactado (CD) intitulado “Manyanhela”, que traduzido significa a maneira como vivemos. O mesmo contém nove peças de crítica social, gravadas na RM para o programa “Cena Aberta” ao longo dos anos.

As peças escolhidas, que segundo o actor não foi fácil, são referentes a problemática, por exemplo, do abuso sexual, abusos dos direitos da criança, dos casamentos prematuros, entre outros assuntos, que são vividas no dia-a-dia na nossa sociedade.

Segundo actor e encenador parte dos valores da venda do CD serão doados a Centro de Reabilitação de Malhangalene para a pintura de um mural com destaque a desenhos infantis.

Salientar que Abdul Juma fundou em 1999 o Nkaringanarte. O mesmo conta actualmente com cerca de 37 membros, dentre efectivos e simpatizantes.

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