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Catástrofes anunciadas

Por admin

O Governo aprovou esta semana o plano de contingência para as calamidades naturais. O mesmo prevê que num cenário extremo em que sejam conjugados os efeitos das cheias, ciclones, seca e sismos seriam afectados um total de um milhão e 124 mil pessoas e para fazer face a uma situação desse tipo estima-se que sejam necessários cerca de 528 milhões de meticais.

Variando de zona para zona, o Governo prevê que haja, no período que decorre até Março, inundações, cheias, ventos fortes e seca. O Executivo está já a preparar-se através de planos sectoriais para fazer face às consequências destas catástrofes, apostando na prevenção e no aviso prévio.

A pergunta que agora se pode colocar é: enquanto o Executivo está a fazer a sua parte em termos de prevenção, o que está a fazer cada um dos possíveis afectados? Será que está a preparar-se sozinho para se evacuar em caso de alerta nesse sido ou vai permanecer no mesmo lugar, teimando sair até que cheguem equipas de socorro para o resgatar?

É que já vimos em relatos e/ou em imagens televisivas, pessoas que ignoram os avisos das autoridades e permanecem no mesmo sítio, alegando que não podem sair e deixar os seus haveres entregues à sua sorte.

Pensamos que como fez o Governo, é altura de cada um fazer o seu próprio plano de contingência em que traça efectivamente o que vai fazer quando a calamidade bater à porta, sobretudo nas zonas em que as inundações e cheias já estão enunciadas.

É que não faz qualquer sentido correr atrás do prejuízo, tarde demais, enquanto que tem agora tempo suficiente para pensar em tudo o que pode fazer consoante cada situação. Muitas pessoas choram pelos seus animais engolidos pelas águas, enquanto se pode providenciar uma evacuação antes do pior cenário bater à porta.

É que ciclicamente vivemos em ambiente de catástrofe nacional, embora nem todos os moçambicanos se apercebam disso. Ciclicamente assiste-se a cenários diluvianos, com o Homem a sentir-se impotente e demasiado pequeno perante a fúria avassaladora das águas que tudo submergem.

Neste período chegam-nos sempre notícias perturbantes da velocidade dos ventos que na sua passagem provocam devastações inumeráveis em tamanho e extensão, deixando milhares e milhares de pessoas sem tecto, sem comida, sem água, sem estradas, caminhos cortados, árvores derrubadas, habitações completamente destruídas.

Estas calamidades que ocorrem nesta época atingem sobretudo as gentes mais pobres, embora situadas em zonas potencialmente ricas. Ciclicamente o povo e muito povo fica sem nada, nada, mesmo nada, às vezes com a escassa roupa que lhe cobre o corpo na altura em que é surpreendido pela calamidade e fica apenas o céu por tecto. Um céu que lhes é padrasto.

Outro aspecto que é preciso tocar aqui quando se fala de catástrofes naturais é a necessidade de solidariedade de moçambicano para moçambicano. É preciso que Moçambique desperte para a solidariedade. Muitas vezes é inominável a ausência de solidariedade dos nossos compatriotas face à aflição e tormentos dos nossos irmãos martirizados pela água e pelos ventos. Nestes últimos anos, parece-nos que a insensibilidade está a dar espaço a um despertar dessa solidariedade que está a penetrar, embora lentamente, vastas camadas da população.

Entre nós, moçambicanos, predomina ainda uma outra forma que não chega a ser relação e que, por isso, é muito mais grave: o estar-se nas tintas para os outros.

A sociedade deve-se preparar também para agir sempre que ocorrem estas situações calamitosas. Sempre que acontecem estas tragédias Organizemos a solidariedade. Somos perfeitamente capazes, enquanto povo, de acudir aos nossos irmãos em emergência, sem esperar pelos auxílios do estrangeiro que, se vêm, bem-vindos são.

Neste sentido, as organizações sociais, políticas e profissionais, os sindicatos, as igrejas, as associações de estudantes, as escolas, as ONGs, a Cruz Vermelha, os líderes comunitários, têm sempre um papel a desempenhar, na cadeia de solidariedade que urge intensificar mais e mais.

Sendo a solidariedade um processo de libertação social, de auto-conhecimento colectivo, não é qualidade que se tem ou que não se tem, mas que se aprende, que se exercita, que se treina todos os dias e em todas as circunstâncias, a começar na família, na educação pré-escolar, na educação escolar, nas universidades, nas empresas, nos locais de trabalho, nas ruas, nos bares e nos espectáculos. A solidariedade é a seiva do “eu-nacional”. Deve ser como o ar que se respira, ela própria é respiração. Exige treino constante de sociabilidade, traduzido na preocupação pelo outro.

 

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