Moçambique conquistou a Independência Nacional do jugo colonial português a 25 de Junho de 1975, vamos agora para os 41 anos, depois duma luta armada que provocou mortes de soldados portugueses e também de moçambicanos.
A partir daí, Moçambique começou a construir a sua história como País independente e como Nação.
A celebração da Independência Nacional teve como palco o maior recinto desportivo da época, o Estádio da Machava, antes também designado Estádio Salazar, erguido, na década de 60, justamente na Machava, ali no Vale do Infulene, Município da Matola.
Foi também no Estádio da Machava que os moçambicanos aprenderam e testemunharam vários momentos marcantes da sua história como Povo, mormente acontecimentos desportivos e políticos de grande vulto.
O Estádio da Machava transformou-se num palco onde a Nação se encontra e reencontra em várias fases da sua história. Por isso, sem qualquer desprimor, entendemos que a dimensão do Estádio da Machava ultrapassa o tamanho ou a aldeia do Clube Ferroviário de Maputo, proprietário daquela infra-estrutura de utilidade pública.
Aliás, ano passado, por ocasião das celebrações dos 40 anos da Independência Nacional, o Governo escolheu o Estádio da Machava para acolher as cerimónias centrais da efeméride, que significaram também a chegada da Chama da Unidade Nacional, depois de passar por várias províncias, distritos, localidades e cidades do país, tendo o distrito de Mueda, província de Cabo Delgado, sido o ponto de partida. E foi sempre assim, sempre que houve Chama da Unidade Nacional.
Por isso, o Estádio da Machava é, por assim dizer, um dos símbolos da Unidade Nacional que os moçambicanos têm o dever de preservá-lo em respeito ao passado, à sua história e também ao seu simbolismo que deverá ser passado às futuras gerações.
Por isso, encaramos com preocupação e alguma surpresa a proposta tornada pública pela direcção do Clube Ferroviário de Maputo para a alteração do nome do Estádio da Machava para uma outra denominação.
Com efeito, depois de cinco nomes propostos, a direcção do Ferroviário agarra-se agora ao nome de Estádio da Independência para substituir o nome “Estádio da Machava” com o argumento de que foi naquele recinto em que foi celebrada a Independência Nacional.
Achamos que este argumento é falacioso, pois ninguém percebe qual é o problema que a direcção vislumbrou para propor aos sócios a mudança do nome, pelo que queremos alertar que são pouco claros os propósitos da alteracção do nome e muito menos claros ainda os argumentos apresentados, que, até ao momento, nem sequer conseguiram convencer a própria massa associativa do clube. Para não falar da voz do povo que é a voz de Deus cá fora. Pode se argumentar que isso não conta, mas se o povo não se apropriar do novo nome, que até é bonito, a sua legitimidade fica em águas de bacalhau, pois continuará a chamar Estádio da Machava, aquilo que o proprietário diz que é outra coisa.
Repetimos que o Estádio da Machava é grande demais para ser assunto a ser tratado a nível de uma assembleia geral do Clube Ferroviário. Não concordamos que sejam apenas aqueles 40 cidadãos alistados como sócios do Ferroviário com direito a voto, em reunião inconclusiva a 23 de Abril último, que pudessem decidir a alteração do nome deste mítico Estádio da Machava.
O Estádio da Machava é pertença sim do Clube Ferroviário de Maputo, mas a sua dimensão já ultrapassou quesitos de simples propriedade clubística. O Estádio da Machava é pertença do Povo moçambicano. O Povo é o seu dono.
Todavia, registamos com agrado o posicionamento dos sócios “locomotivas” ao exigirem mais detalhes sobre a pertinência de alteração do nome daquele recinto.
Preocupados ficamos com a insistência da direcção do clube, que, apercebendo-se do sentido de voto dos sócios presentes, manobrou a magna reunião adiando a decisão final para uma assembleia geral extraordinária, a realizar-se durante este mês de Maio, o que denunciou fraca preparação para o exercício democrático que se pretende na gestão dum clube desportivo.
Mesmo adiada a decisão, os moçambicanos continuam a questionar: Por que mudar o nome do Estádio da Machava?
É que ninguém consegue explicar convenientemente aos cidadãos deste país essa necessidade de mudança de um nome que já criou história e que não se vê propósito nenhum em querer mudá-lo. É má política querer mudar só por mudar, querer mudar porque posso e mando. Isso leva ao descrédito de quem administra infraestruturas, que foram construídas para servirem as pessoas. O Estádio tem uma denominação que já se enraizou no coração do povo, mas por dá cá aquela palha, no dia seguinte, o povo acorda e depara-se com uma nova denominação no recinto que já é de todos.