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Afinal há gente legal ali no HCM!

Por admin

Está coisa de um gajo estar vivo um dia ainda acaba mal”. Esta é uma frase feita cá da casa e empregue pelo pessoal quando pretende falar de coisa séria mas em tom brincalhão. E não é que se cumpriu a profecia.

Bula-bula, também ele mortal, teve uma queda. Paramédico para aqui, paramédico para acolá, aspirina aqui, supositório ali, haaa…o destino acabou sendo a enfermaria de Medicina do Hospital Central de Maputo (HCM). Medicina I.

Apreensivo, Bula, que também chora como uma criança, ia soluçando e rezando para que não lhe dessem uma injecção. É que essa coisa de agulha no rabo, no verão, não é flor que se cheire. Pior se ela for cumprida e fininha.

Ao terceiro dia de hospedagem naquela grande casa de gente de bata branca e azul, Bula esbugalhava os olhos. O corrupio do pessoal médico, mas sobretudo dos enfermeiro(a)s e serventes era arrebatador. As enfermeiras não tinham mãos e sorrisos a medir para proporcionar o conforto aos doentes acamados. Enfermos adultos e idosos precisavam de quem lhes trocasse a roupa em resultado das necessidades fisiológicas, não fossemos seres humanos.

Entre os visitantes e familiares dos internados havia quem não conseguisse ajudar o seu próximo, quer pela dor que lhe dilacerava o coração, quer pela falência súbita da capacidade de raciocínio. Havia também quem não conseguisse olhar para o seu doente. Espantosamente, porque não tem sido comum, lá estava a atenção da enfermeira ou enfermeiro para o auxílio. Ora muda a algália, ora monitora o saco de soro fisiológico, ora muda a fralda descartável, etc, etc.

O vómito de um doente era seguido pela resposta rápida de uma servente que de balde e mop nas mãos deixava o espaço mais reconfortante. Cumpria-se a segunda Lei de Newton: Acção vs Reacção”. A servente em voz bem audível ia recordando a colega uns metros mais adiante da promessa feita: “Não é para me fugires. Hoje saímos juntos. Temos de passar do mercado Janet. Quero comprar umas coisas”. E do outro lado a resposta: “ amiga, estás folgada?! Papai a wa pámela” (o marido ou chefe da família está a cuidar muito bem de ti). E a outra: “aooonde, você”.

Às vezes ia a servente em direcção ao quarto contíguo e já o doente sujava os lençóis pela segunda vez. A servente de mop na mão dava meia-volta e perante o olhar tímido de um e outro familiar dizia: “Tenham calma. Esta minha amiga está melhor. Ontem estávamos a rir juntas”. E desanuviava-se a atmosfera.

Bulapercebe que são necessários mais enfermeiros, ainda assim, aqueles poucos são bons. Pela sua cabeça perpassa o slogan do Ministério da Saúde (MISAU): “O NOSSO MAIOR VALOR È A VIDA”. Será que no HCM estará, mesmo, em curso a humanização dos serviços? É cedo para fazer saltar as rolhas das garrafas de champagne. Mas… qualquer coisa mexe. Água mole em pedra dura tanto bate que até fura. Pagamos para ver. A vida é um jogo. Não vale promessa. Onde ouvimos isto?

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