Mães, tias, primas, sobrinhas e manas (Bula Bula não viu nenhuma avó) mobilizaram-se semana passada em Maputo para uma manifestação feminina contra a obrigatoriedade do uso de saias compridas em algumas escolas públicas do país, naquilo que depois ficou conhecido como “marcha contra as maxi-saias”.
As marchantes queriam manifestar-se a todo o custo defronte da Escola Secundária Francisco Manyanga, não se sabendo as razões da escolha daquele estabelecimento, uma vez que a maioria das escolas secundárias da capital e fora dela, já começaram a aplicar o regulamento sobre os uniformes escolares que já tem alguma barba no queixo. Data de há três anos.
Facto curioso é que nenhuma das manifestantes foi lá de mini-saia ou coisa parecida. Umas usavam calças e outras trajes mais decentes.
A Polícia lá esteve para dizer às organizadoras que a marcha era ilegal uma vez não autorizada por entidade competente e impos ali à força alguma ordem, detendo cinco marchantes duas das quais estrangeiras.
Cá fora, a sociedade em geral estava atónita perante estes acontecimentos, não percebendo os motivos de tamanha algazarra.
A propósito da marcha, um ancião perguntava se as manifestantes queriam que “as nossas netas continuassem a ir quase nuas às escolas, um vergonha total”, pois muitas delas modificavam o design original dos uniformes para colocar as saias mais curtas e mais apertadinhas.
Ninguém percebia exactamente que mensagem queriam as manifestantes passar. Será que defendiam que as meninas, (é delas que se tratam), se vestissem ao seu bel-prazer para irem à escola fingindo que estavam vestidas ou pior ainda uniformizadas? Estavam contra as maxi-saias? Queriam que as saias fossem mais curtas do que estão agora?
Uma mãe dizia na ocasião que achava que as meninas estavam mais bonitas agora de maxi-saias do que quando iam à escola com coxas à vista de todos e faziam aquele espectáculo do puxa-saia para baixo constantemente, como se faz nas ruas, sabendo que aquilo nunca iria para baixo porque de facto era curto e tinha sido deliberadamente feito assim.
Comentário puxa-comentário. Foi então que se contou a estória dum aflito director de turma (DT) duma escola secundária da capital, no tempo dos uniformes das mini-saias. O director achou a saia da sua aluna era bastante curta para frequentar às aulas vestida daquela maneira. Convocou o encarregado para conversar sobre o assunto. Veio mãe da menina. Vestia uma saia mais curta do que aquela que a filha levava à escola. O DT desistiu de introduzir o assunto e foi dizendo à solícita mãe que afinal não era nada de grave e que efectivamente quem lhe mandara convocar, tinha sido a directora pedagógica. Lavou as mãos como Pilatos e remeteu o assunto à direção da escola.
Pelo que Bula Bula percebeu (?), as manifestantes, as mães, tias, primas, sobrinhas e manas que foram à “Manyanga” não estão propriamente contra as maxi-saias (?) mas sim querem chamar atenção sobre as “manobras e artimanhas que as escolas usam para justificar reprovações e distracção de professores e alunos nos estabelecimentos de ensino”.
“Não são as meninas a razão do fracasso da Educação em Moçambique. Não serão as maxi-saias que irão mudar esse cenário. Não é controlando e “sexualizando” o corpo de meninas que nós vamos afirmar que estamos a melhorar a qualidade do ensino. Deve-se discutir e analisar de forma profunda os problemas da Educação, do que impor práticas fundamentalistas”, defenderam as organizadoras, exigindo depois a retirada nas escolas de normas que, segundo elas, limitam direitos de mulheres e raparigas com base na indumentária, assim como a responsabilização criminal de professores que perpetuam a violência contra meninas.
O director da Manyanga atónito com que lhe estava a acontecer defronte do seu jardim foi-se justificando: “Estamos a falar de uma norma que existe em qualquer instituição que tem seu padrão de fardamento. Eu não sei como é que elas pensam que numa escola devemos viver sem ordem e regras concretas. É inconcebível que adultos instrumentalizem as crianças para objectivos próprios. A medida é para disciplinar as crianças, apenas isso”.
Bula Bula foi compulsar dicionários para achar a definição de “uniforme” e anotou o seguinte: “que tem uma forma só; semelhante; que não muda; idêntico; vestuário ou farda igual para uma categoria de pessoas ou corporação”. Será que é defensável a ideia de que se devia continuar a deixar as coisas como estavam, com cada um cozendo a sua calça e a sua saia à sua maneira? É claro que é pertinente continuar a fazer o debate sobre os problemas da nossa Educação, que são muitos. Mas devemos continuar a apoiar decisões acertadas que vão sendo tomadas para corrigir os males do passado e dando serenamente as nossas opiniões em lugares apropriados.
As mini-saias e calças-garrafas não nos parecem trajes apropriados para se ir à escola. Estes trajes podem ser usados noutro lugar. Por isso, Bula Bulaaplaude aplicação da medida que peca apenas por ser tardia.