Multiplicam-se alertas de cofres vazios nos clubes participantes no Campeonato Nacional de Futebol “Moçambola” e o caso mais gritante foi a falta de comparência averbada ao Desportivo do Niassa porque os jogadores protestavam contra a falta de pagamento de salários. Até clubes históricos como Maxaquene, Costa do Sol e Desportivo não escapam à crise.
Perante o fenómeno, o presidente da Liga Moçambicana de Futebol (LMF), Ananias Couana, apela às direcções dos clubes para evitarem greves e buscarem alternativas para responder à conjuntura.
Abordado pelo domingo para analisar as 12 jornadas do “Moçambola” já disputadas, Couana manifestou preocupação com a falta de comparência averbada pelo Desportivo do Niassa e disse ser importantetodosagentes continuarem concentrados na realização dos programas definidos.
DESPORTIVO DO NIASSA
NÃO É FRUTO DO ALARGAMENTO
Sr. Presidente, o “Moçambola” dá lugar a outras competições depois de 12 jornadas. O que se lhe oferece dizer?
Conforme o programado no início da época, neste período o campeonato é interrompido para dar lugar a outras competições oficiais dos clubes e também aos jogos da selecção nacional. Até agora a logística do campeonato correu bem porque o planificado aconteceu e gradualmente vamos respondendo a algumas preocupações dos clubes relativamente a transporte e alojamento, que são as duas grandes rubricas da prova sob responsabilidade da Liga.
Indubitavelmente o “Moçambola” acaba sendo marcado negativamente pela falta de comparência averbada ao Desportivo do Niassa. Concorda?
O Desportivo do Niassa foi o último clube a confirmar sua participação no Moçambola. Se se lembram, este clube foi qualificado em circunstâncias anormais, depois das goleadas que se verificaram na poule da zona norte do país. Foi um apuramento homologado na secretaria e nós como Liga o que fizemos foi nos deslocar a Lichinga visitar o clube e apresentar as condições para a sua participação no campeonato. As condições indicadas nos transmitiram alguma tranquilidade.
Receberam garantias de tudo estar bem?
A primeira questão que se colocava era onde o clube iria receber seus adversários e tivemos garantias de que o Estádio Municipal 1° de Maio iria beneficiar-se de obras de melhoramento para responder ás exigências do Moçambola. As estruturas locais do Governo prometeram apoio e apoiaram. Nessa altura estávamos a dialogar com uma direcção que pouco tempo depois cessou funções. Houve um processo que culminou com a eleição duma nova direcção que ainda não tomou posse. Felizmente, mesmo sem ainda tomar posse, essa direcção já assumiu os destinos do clube e à data da falta de comparência não tínhamos um interlocutor com quem dialogar no Niassa. Não fomos comunicados com antecedência da não disponibilidade para realizar o jogo da 11ª jornada. Na 12ª jornada o clube jogou e deu indicações de que vai continuar na competição, apesar das dificuldades que persistem.
Mas há também situações de clubes como Maxaquene, Desportivo e Costa do Sol cujos agentes reclamaram publicamente de falta de salários e outras condições.
O futebol não é uma ilha e por isso não está à margem do que está a acontecer com a nossa economia. O importante é que as direcções dos clubes, todos nós, continuemos a trabalhar para o cumprimento do que nos propusemos a fazer. Nós, como direcção da Liga, não temos intervenção na gestão dos clubes, o que desejamos e recomendamos é que os clubes continuem a encontrar alternativas para ultrapassarmos esta fase crítica, o que só será possível com muito trabalho.
No início dos campeonatos os clubes não apresentam garantias de capacidade financeira para suportar sua participação no Moçambola?
O regulamento de competições não prevê essa situação. Se calhar um dia teríamos que avançar para esse nível, mas pode acontecer que os clubes, nos seus orçamentos, prevejam ganhos que depois não se concretizem no período esperado. O licenciamento dos clubes, um processo que está a ser gerido pela federação, prevê algumas situações para um clube ser licenciado e participar no campeonato nacional, sendo uma das condições ter contabilidade organizada e contas auditadas. É um processo que paulatinamente os nossos clubes estão a responder e acredito que nos próximos anos a situação será melhor.
Coloca-se a questão como é que Liga alargou o número de clubes no Moçambola se esses clubes não são capazes de suportar sua participação?
Temos um objectivo claro que é aumentar gradualmente a competitividade do nosso campeonato e a nossa Liga enquadrar-se melhor na nossa região do continente. Este ano alargamos a festa do Moçambola para mais moçambicanos e isso é inegável. É preciso perceber que o Desportivo do Niassa, que provoca esses comentários, não é um produto directo do alargamento do número de clubes, mas da poule regional norte do ano passado. Os clubes que permaneceram no campeonato fruto do alargamento são 1° de Maio de Quelimane e Desportivo de Nacala e já possuem alguma experiência para este tipo de competição. Não é correcto associar as dificuldades do Desportivo do Niassa com o alargamento do número de clubes.
VERDADE DESPORTIVA
Apelou aos treinadores e outros agentes para evitarem fazer leituras baseadas no desempenho dos árbitros. Está feliz com a resposta?
É preciso esclarecer que não inventamos nada, senão a chamada de atenção de que os regulamentos serão aplicados com rigor.Num jogo de futebol temos 22 jogadores em campo e não encontramos razões para no final do jogo serem ignorados e concentrarmos nossa análise num ou em três árbitros. O que reiteramos é que devemos utilizar mecanismos apropriados para reclamar, em meios próprios e em sede própria, porque o falar na comunicação social, de forma injuriosa, difamatória, não é o caminho que nos vai levar a verdade desportiva. Mas falando com uma linguagem cuidada, em sede própria, o órgão competente nos pode conduzir a tomar melhores decisões.
Será que os árbitros nunca são castigados?
Os árbitros estão sob gestão da CNAF, que tem um órgão de disciplina. Sabemos da preocupação da divulgação das penalizações, quando ocorrerem. Quero acreditar que já houve penalizações e também entendemos que seria bom para haver mais transparência. É um assunto que vamos continuar a tratar junto doutras estruturas. A CNAF faz análise da jornada, o comportamento técnico e físico dos árbitros e toma as devidas decisões.
Todo mês de Junho não teremos jogos do “Moçambola”. Não acha exagerado?
As competições profissionais não estão paradas. O calendário de competições que foi divulgado no dia da Assembleia-Geral e foi aprovado pelos 16 clubes é este que estamos a pôr em prática. Este calendário já prevê todos os jogos até o dia 30 de Outubro. Temos três competições, o Moçambola, a Taça da Liga BNI e a Taça de Moçambique. Em algum momento temos que dar lugar a outra competição, para além dos jogos da selecção nacional. Podemos chamar de paragem, mas é para dar lugar a outras provas em que esses mesmos clubes e atletas estão inseridos, portanto, não param de competir Quando fazem a planificação, os dirigentes, treinadores e atletas e a própria Liga devem saber que no dia 04 de Junho já não vou jogar o Moçambola mas outra competição.
Um mês não quebra o ritmo da principal prova, que é o Moçambola?
Por razõesóbvias deve parar. Esta semana temos o jogo da selecção nacional e não vamos jogar o “Moçambola” porque o próprio regulamento indica que o clube que tiver o mínimo de dois atletas não pode fazer o jogo do campeonato nacional. Há clubes que tem plantel de 30 jogadores, e estas outras competições são também oportunidades para os técnicos.
Uma equipa pode ter mais de dois jogadores na selecção nacional e disputar a Taça da Liga BNI?
Sim, porque a Taça da Liga BNI tem regulamento próprio de competições. Esta edição já é uma prova oficial. Diferentemente do que acontece no “Moçambola”, todas equipas vão jogar na Taça da Liga BNI e não teremos jogos em atraso.
Que prémios estão já garantidos para este torneio?
Temos um prémio de participação de 50 mil meticais por clube, temos também um prémio por cada vitória, outro prémio de qualificação à fase seguinte. Em cada jogo há premiação do melhor jogador.
Sinal vermelho no Maxaquene
O Clube de Desportos da Maxaquene ressente-se com dificuldades financeiras para o cumprimento dos acordos com seus atletas e funcionários, situação que se estendeu agora ao departamento de futebol.
A equipa sénior não aufere salários há sensivelmente dois meses, facto que ditou a ameaça de paralisação do trabalho na passada quinta-feira.
A direcção justifica que os parceiros do clube não conseguiram desembolsar os valores nas datas acordadas, o que provocou problemas de liquidez, decorrendo um intenso trabalho para se ultrapassar a situação.
Só de salários e remunerações, o Maxaquene tem de pagar aos seus colaboradores pouco mais de um milhão de meticais por mês.
Custódio Mugabe
custodio.mugabe@snoticicas.co.mz
Fotos de Jerónimo Muianga