Gente do boxe está cada vez mais saturada com as “brincadeiras” da Federação Moçambicana de Boxe (FMBoxe). São campeonatos nacionais tardiamente marcados e mal organizados. São as selecções convocadas à última hora e mal preparadas. São dirigentes que não sabem porque estão na modalidade. São os atletas e treinadores que não são considerados nem valorizados.
São os árbitros que de todas vezes são forçados a fazer greve para puderem receber o que lhes é prometido. E são os fundos do Estado que não se sabe como são empregues, ouvindo-se sempre a canção de não chega para nada.
São também as mulheres que não são reconhecidas, mas são elas que dão graça à modalidade com resultados de ouro com que se vangloria a própria federação.
Se alguém duvidava do que se vinha dizendo das falcatruas cometidas pelo actual elenco federativo da FMBoxe, esse deve ter ficado esclarecido com o que pode ter conhecimento da realização em Maputo do torneio Regional, em que os bi-campeões nacionais, para a sua própria consideração e valorização, não se fizeram presente por o seu clube, Estrela Vermelha de Maputo, ter considerado anti-desportivo chamar atletas para a selecção nacional numa altura em que a federação da modalidade sabia que estavam em defeso.
Há quem dizque o culpado de tudo é Benjamim Uamusse(Big-Ben), presidente da FMBoxe, por não se dar tempo para melhor trabalhar em prol de desenvolvimento da modalidade. Mas pode estar a ser mal aconselhado por aqueles que ele julga conhecerem melhor o boxe que os próprios fazedores da modalidade.
O futuro passa pela mudança de mentalidades e pessoas na FMboxe, como referem algumas personalizadas aqui trazidas para debruçarem-se sobre o estágio actual deste nobre desporto, que entre nós virou desporto banal. O nosso jornal já temmarcada entrevista com Big-Ben.
Na quinta-feira houve uma reunião na sede do Instituto Nacional do Desporto (noZimpeto) a pedido de Lucas Sinóia, que ameaçava afastar-se do boxe, se a situação da modalidade continuasse de mal para o pior.
No encontro estiveram o presidente da FMBoxe, Benjamim Uamusse, AntónioMunguambe, director geral do INADE, Lucas Sinóia, treinadores e pugilistas. Também participou o técnico cubano ao serviço da selecção nacional sénior. Sinoia regressou mudo desse encontro, sinal de que alguma coisa deve ter sido resolvido a favor do boxe.
Não há valorização dos atletas
– Custódio, chefe do departamento do Matchedje
“Os clubes e associações estão bem. A federação é que está péssima. Não há consideração nem valorização dos atletas. As convocatórias para as selecções nacionais são feitas quatro dias antes do evento internacional agendado para Maputo, o que resulta numa vergonhosa participação. E depois são os árbitros que inventam tudo que o boxe não precisa. Nada vai mudar com uma federação pouco funcional”, quem assim diz é Custódio, ex-pugilista, actualmente chefe do departamento de boxe do Matchedje de Maputo.
Custódio não compreende como em Moçambique não há pré – selecções de boxe. Para ele chegam à selecçãoaqueles que forem melhores na pré-selecção.
“Deve haver pré-selecções antes das selecções. Nas pré-selecções são chamados os melhores dos clubes e nas selecções vão os melhores das pré-selecções. Aqui só se leva tudo que é do Ferroviário de Maputo para a selecção masculina. Quem disse que os melhores pugislistas de Moçambique estão todos no Ferroviário de Maputo? Nem é lá onde estão os melhores treinadores deste país”, quem assim diz não é um estranho de boxe, é alguém que deu muito à modalidade, enquanto praticante, um grande animador de boxe sempre que subiu ao ringue.
Custódio está atento aos pronunciamento de gente que fala de boxe, dai ter ouvido o presidente da FMBoxe a dizer algo que lhe equivocou.
“Quando o presidente da federação diz que o Governo deu 1.400,00Mts para acolhimento do Regional, eu fico sem saber o que ele fez com esse dinheiro. Não pagou os árbitros, não incentivou os atletas, estes que não tiveram preparação adequada. Vendo bem as coisas a federação deve andar a mentir para o Governo com justificativos de que o dinheiro chegou aos atletas quando não é verdade. As pessoas que estão no desporto não são sérias. Os de boxe são iguais aos de andebol, futebol, basquetebol, voleibol…aldrabam atletas, árbitros e ao próprio Governo, que por vezes parece surdo – mudo – cego.”
Com o dinheiro do erário público que drena nas federações, o Governo devia exigir melhor organização, boa preparação e bons resultados, defende Custódio.
“Se houvesse organização e preparação, Moçambique não sairia do recente Regional sem nenhuma medalha de ouro. Para o nosso interlocutor, Lucas Sinóia é que devia ser o treinador dos masculinos e não femininos. Os nossos masculinos estão sempre a levar porrada, o que prova que não têm tido boa preparação, independentemente da duração da mesma.”
Custódio é de opinião de que o próximo da FMBoxe “ que não venha para encher seus bolsos, mas para valorizar a modalidades e os seus fazedores. Não é para sabotar o esforço do Estado.”
A federação está
aenganar o Governo
– Paulo Jorge, formador
Para o antigo pugilista, patrono da academia de boxe com o seu nome, Paulo Jorge, o actual estágio da modalidade não é péssimo, “é muito péssimo.” Porquê? “Porque se formam de qualquer maneira as selecções nacionais e com atletas que não justificam representar o país em detrimento doutros que se matam a treinar e a ganhar em vão.”
Tem verificado que certos atletas chegam a selecção nacional só porque são do Ferroviário de Maputo, clube de que é treinador Elísio Manhiça, só é seleccionador porque é amigo (ou qualquer coisa incompensável) de Benjamim Uamusse (Big-Ben).
“Há pessoas que deixaram de treinar há dois anos mas são chamadas à selecção nacional, o que faz desistir da prática de boxe aqueles que se entregam à modalidade dia e noite, treinando e combatendo”, refere Paulo Jorge.
O mais grave para Paulo Jorge é chegar-se ao ponto de se convocar para a selecção nacional atletas que nunca subiram ao ringue.
“Que pais é este que se faz representar pelos medíocres e não pelos bons? No último torneio zonal Moçambique se fez representar por alguns atletas que nunca tinham subido ao ringue. Ouvi uma pugilista a dizer que estava muito feliz por ter subido pela primeira vez ao ringue. Afinal, para onde o elenco de Big-Benestá a levar o boxe nacional? Não é com gente que não sabe nada de boxe que a federação deve procurar justificar a utilização dos fundos que recebe do Estado”, lamenta.
O nosso interlocutor não entende porque motivos sempre que se parte para um evento internacional, e depois do mesmo, o senhor Big-Ben aparece em alguma imprensa a dizer que “o nosso objectivo não é ganhar, é formar. Afinal, quando é que acaba essa formação para o país começar a ganhar? Temos que fazer subir ao ringue atletas que à primeira nos garantem vitórias, dignificando a nossa bandeira nacional que custou sangue dos nossos pais e avós.”
Paulo Jorge faz recordar que no seu tempo de pugilista, quando a federação era dirigida por pessoas do boxe, sem interesses obscuros, “nós éramos bem preparados e subíamos ao ringue. Sabíamos da programação das provas nacionais e internacionais atempadamente. Não era como agora que se avisa aos atletas para uma prova internacional quando apenas falta uma semana para a sua realização. Só quem nunca subiu ao ringue pensa que vitórias não custam grande preparação.”
QUE FEZ MANHIÇA?!…
Paulo Jorge diz ignorar os critérios usados pela FMBoxe para a escolha de seleccionador nacional de boxe sénior. Como atleta, Elísio não foi melhor que ele nem que Lucas Sinoía.
“Eu por duas vezes fui tido pelos mestres cubanos melhor treinador de boxe masculino e Sinóia melhor do feminino. Ele, Sinoia, é seleccionador, eu não. Para o meu lugar foi chamado Elísio Manhiça, o que só pode ser justificado pelo facto de o objectivo da federação ser apenas de formar e não também de ganhar. Não sei onde se quer chegar com essa política. O boxe é a pior modalidade desportiva no país, porque não tem federação capaz de a alavancar. Os angolanos, porque sabem planificar, vão para uma competição internacional depois muita rodagem interna. Nós saímos do nada para o ringue, com pretexto de que o nosso objectivo é formar. Até quando?!”
A nossa fonte vai mais longe afirmando que “aqueles que levam crianças sem preparação ao ringue estão a cometer crime desportivo, ao mesmo tempo que estão as atrofiar. Resultado, ao invés de se formarem pugilistas, formam-se bandidos. Quer dizer, está-se a formar marginais. Quem sempre leva porrada, por falta de preparação, acaba fugindo do ringue, tornando-se num marginal efectivo.”
Pelas atrocidades que acontecem no boxe, Paulo Jorge não culpa o Ministério da Juventude e Desporto (MJD), porque para ele este não sabe, por exemplo, que os fundos do Estado alocados à FMBoxe para a promoção e desenvolvimento da modalidade “não chegam a beneficiar o atleta.”
E sugere que o dinheiro seja direccionado às associações e clubes, que são os verdadeiros formadores e promotores de boxe. “Não se compreende que nós os formadores de pugilistas não estejamos a receber nada do MJD e do Comité Olímpico de Moçambique, que preferem dar a grupos de pessoas que se encontram nas federações a marginalizar os fazedores do desporto.”
Actuais dirigentes
fazem regredir a modalidade
– Filipe Limónio, árbitro
Filipe Limónio é árbitro. Foi pugilista. E é defensor de um boxe dirigido por pessoas sérias, que estejam no desporto para servir e não para se servirem do desporto como os que pululam por aqui.
“O boxe não está a progredir. Está em estagnação. Os dirigentes da modalidade não se dão tempo para velar pela modalidade. Hoje há mais gente a pratica-lo mesmo sem incentivo material, financeiro nem moral”.
Ele teme que a modalidade desapareça no país “por precisar de dirigentes sérios, que soubessem o que querem para o bem do desporto e não estes que só querem manter bonitos os seus nomes na praça pública.”
Limónio conhece quem é culpado da estagnação do boxe em Moçambique, é a FMBoxe, que não sabe programar actividades de que é responsável.
“A nível federativo a situação vai de mal a pior. Não sabe anunciar a tempo e horas a realização de um evento internacional como foi o recente regional realizado em Maputo. Aquele evento devia ter sido anunciado em Xai-Xai aquando da realização do campeonato nacional de 2015. Atletas estavam em defeso quando foram chamados a competir e muitos não aderiram. O outros que vieram nos bater aqui em casa éporque as suas federações são organizadas. Os dirigentes nacionais devem ter pensamento desportivo. Tenho plena certeza que o gabinete técnico da FMBoxe não funciona em pleno, seé que existe.”
Para provar que vontade de competir por parte dos atletas não falta Limónio recorda que “ mesmo com falta de programação e planificação da federação no recente Regional ficamos em terceiro lugar. É sempre a mesma coisa. É pena que os senhores da federação não estejam a fazer o que prometeram fazer na sua tomada de posse.”
ARBITRAGEM ESTÁ ÓRFÃ
A falar com um árbitro do seu gabarito é inevitável abordar a temática de arbitragem.
“A nossa arbitragem parece não fazer parte do boxe, modalidade financiada pelo Estado, via federação. Sempre não há fundos para a arbitragem. Uma das saídas para merecer respeito terá que passar por criação da Comissão Nacional de Árbitros de Boxe (CNA- Boxe), com uma forte liderança e funcional”, defende.
Perguntamos a Filipe Limónio que fazer para salvar a modalidade, já que todos afirmam estar à deriva.
“Precisamos de um presidente que saiba o que é boxe. Eu votaria no regresso de Danilo Jussubo, Spiros Esculudes ou Jorge Amade. Qualquer um deles acabaria com a mania de um presidente de associação ser treinador em simultâneo. Quem conhece o boxe não será capaz de pedir a um árbitro para não terminar o combate para permitir espectáculo, mesmo vendo que uns atletas já não está em condições de continuar a lutar”.
– Qualquer dos três que eu citei não permitiria que as associações se confundissem com clubes ou associações que não resultem de clubes. No campeonato nacional não podem participar selecções representando províncias e clubes representando a cidade de Maputo. Alguma coisa de desporto não é conhecida pelo actual elenco federativo. Temos que mudar.
Manuel Meque
malembalemba@gmail.com