Texto de Custódio Mugabe
Aos 17 anos, Edmilsa Governo colocou África em sentido para ouvir o ecoar do hino nacional e assistir ao hastear da bandeira moçambicana nos XI Jogos Africanos Brazzaville 2015. Bastaram somente três anos de prática de atletismo para o êxito. Claro que não é para todos.
Com a crise anunciada e instalada no atletismo convencional, foi o adaptado que salvou Moçambique nos recém-terminados Jogos Africanos de Brazzaville, com Edmilsa Governo a chamar a si a responsabilidade de ganhar a única medalha de ouro no evento.
De resto, estamos perante um sucesso já esperado pela atleta do Matchedje do Maputo, a cumprir apenas o terceiro ano de carreira depois que foi convidado por um colega de escola a experimentar uma corrida na pista.
Não sabia o que era, fui experimentar, gostei de correr e hoje estou aqui a realizar os meus sonhos– congratula-se.
Edmilsa tem dificuldades de visão – corre com outras míopes – por isso, sempre receou fazer-se à estrada. O seu lugar é na pista e sente-se à vontade nas provas de 200, 400 e 800 metros.
Pertencem-lhe os recordes nacionais nas três categorias e deve ser por isso que não tem por onde escolher: “adoro todas”, reforça, para logo nos alertar que o segredo está nos treinos.
Treinou tanto de tal sorte que quando seguiu para Brazzaville estava confiante em ganhar uma medalha. “Durante a última etapa de preparação, o sol era muito forte aqui em Maputo e lá o calor era horrível. Preparei-me bem em Maputo e tive provas, também fiz boas marcas na Suazilândia. Já me sentia preparada para ir competir fora e ganhar uma medalha. Já esperava por uma medalha, mas não necessariamente de ouro”.
Na pista de Brazzaville, a “menina de ouro” enfrentou a concorrência da conterrânea Maria Muchavo, a quem tratou como adversária porque, conforme faz questão de sublinhar, na pista não há amizade, só trabalho.
– Senti-me bem quando vi a Maria na pista porque as duas tínhamos o mesmo objectivo de trazer medalhas para Moçambique independentemente de quem ganhasse o ouro. As duas estávamos felizes e confiantes pela possibilidade de elevar a bandeira nacional. Ao lado dela senti-me à vontade, tratei-a como adversária e na pista o meu intuito foi sempre de ganhar porque acredito que na pista nunca há amizade, mas sim há trabalho e foi assim que tratei a minha colega naquele momento e até ao fim da prova.
A atleta sente-se feliz por saber que oito anos depois o país ganhou medalha de ouro através dela. “Uma honra para mim e acredito que para todos moçambicanos. Espero que daqui em diante consiga mais medalhas de ouro. Dedico esta medalha aos moçambicanos, à Lurdes Mutola que já conseguiu esta medalha antes, e a Leonor Piúza. Em geral, a todos”.
RIO 2016
Agora, Edmilsa traça novos horizontes e aponta uma presença vitoriosa nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016, como um objectivo ao seu alcance.
– Meu objectivo agora é Rio 2016. Quero preparar-me bem. Acredito no meu potencial e posso chegar lá e conseguir uma final ou uma medalha. Agora, toda competição onde participar servirá de preparação para o Rio 2016.
Pelo menos já tem a receita e partilha aqui com os leitores do domingo:
– Muito treino, dedicação, não se deixar levar pelas más condições de treino que temos em Moçambique. Treinar duro, sempre com confiança e com aquela vontade de ganhar medalha.
Apesar das dificuldades para treinos e escassez de competições, Edmilsa não se abala. Pelo contrário, busca aí mais energias e tempera com o amor que nutre pela modalidade.
“Pretendo continuar no atletismo e levar a bandeira de Moçambique para mais longe. Ainda que não haja condições, corro por amor. O mundo deve saber que existiu a Lurdes Mutola e outras atletas em Moçambique”.
Até porque, no entender da atleta, o atletismo adaptado de Moçambique está bom e recomenda-se. “No atletismo adaptado julgo que estamos muito bem. Noutros países os adversários são fortes, não há que nos intimidarmos. Temos que nos sentir bem preparados e penso que estamos muito melhor que atletas doutros países”.