A desorganização, provavelmente organizada, voltou a verificar-se no boxe, outra vez na realização do campeonato nacional, desta vez em Xai-Xai – capital de Gaza – de 20 a 22 de Novembro, prova ganha pelo Estrela Vermelha de Maputo.
Outra vez os pugilistas tiveram que ser submetidos às condições deploráveis e desportivamente inaceitáveis. Primeiramente foram “despejados” num lar de estudantes impróprio para alojar atletas de alta competição. Estrela Vermelha fugiu do local para uma casa condigna às suas custas. O Ferroviário de Maputo também se retirou do local para uma pensão. Aliás, Ninguém ficou por lá!
“Não é verdade! Aquela comida é confeccionada aqui, nesta barraca com estas condições higienicamente duvidosas!”, dizia um treinador quando lhe foi indicado a barraca responsável em confeccionar a comida dos participantes do campeonato nacional de boxe, ai pertinho do pavilhão aberto do Clube de Gaza, local dos combates.
Comer nas barracas o fazemos todos, mas individualmente cada um procura onde as condições de confecção da comida se apresentam melhor. A barraca que confeccionava comida para os participantes do Nacional” de Xai-Xai nem ao nível do mercado onde se encontra é das melhores. Mas era naquela construção precária, com bacias cheias de água suja e meio limpa para lavar pratos e panelas, que saía comida para os atletas, treinadores, árbitros, jornalistas e para alguns dirigentes. Incrível!
Vício de atrasar
Em Xai-Xai houve confirmação de que o actual elenco da FMBoxe, presidido por Benjamim Uamusse (Big – Ben), gosta de atrasar tudo. Em nenhum dos três dias os combates iniciaram a hora marcada. No primeiro dia os combates só iniciaram por volta das 21 horas, depois de ter anunciado sido para 16 horas. No dia seguinte ninguém ao certo dizia que horas iriam iniciar, o que veio acontecer cerca das 17 horas.
Para o último dia, domingo, estavam agendados duas sessões de combates. A primeira iniciaria as 13 horas e segunda as 17 horas. Mas só houve uma iniciada por cerca das 17 horas.
Para quem olha o desporto como sector banal, remetendo a sua prática a qualquer tratamento, alteração de horários de realização de provas, para quais os atletas precisam também de preparar moralmente, aquela barafunda de Xai-Xai é coisa normal.
Quer no alojamento, quer na alimentação, voltou a se evidenciar o desprezo que os dirigentes federativos de boxe têm para com os atletas, que por vezes os confundem com os seus empregados domésticos. De que são eles os servidores dos atletas, é mentira. Fica claro de que não são nada servidores do desporto, são os principais servidos do desporto.
Não há respeito pelos atletas. Das províncias, mais uma vez, foram trazidos para o “Nacional” como mercadorias dos responsáveis das associações provinciais, que recebem da federação fundos de participação no evento.
Mentem as associações provinciais, mente a federação no que tange aos números de atletas que participam no “Nacional”. São adiantados números elevadíssimos e no terreno nem a metade faz-se presente. As associações enganam a federação para receberem mais dinheiro. A federação ludibria o Fundo de Promoção Desportiva (FPD) para receber mais fundos. É assim no nosso desporto, aqui onde quem doa dinheiro não anda preocupado em saber como é gasto, bastando-lhe apenas receber os tais justificativos que se conseguem em qualquer esquina deste país.
Brincadeira Nacional de Boxe
Aquilo que assistiu em Xai-Xai foi mais brincadeira nacional de boxe que campeonato nacional. Um campeonato nacional visa medir o nível competitivo de uma determinada modalidade no espaço de um ano. Para o efeito, cada província se preparar para ganhar mais medalhas para o seu próprio orgulho, o que não acontece com o boxe.
Nos “Nacionais” de boxe, cuja realização sofre adiamentos sucessivos, prova-se que nas províncias não competições. Os ditos atletas que as representam são jovens recrutados pelos presidentes das associações, que com ajuda de alguns pugilistas do passado, simulam treinos de sua preparação.
Que atletas são aqueles que não sabem como se posicionar no ringue, donde quase todos pediram para sair ainda a decorrer o primeiro assalto, nos combates diante de pugilistas da capital do país, por incapacidade técnica e física?
Não se pode continuar a mentir que há boxe nas províncias quando na verdade em algumas o que existe são aprendizes de pugilismo com quais os se procura justificar a existência de associações provinciais para efeitos de recepção de fundos para acções que desenham mas que não são executadas. A desigualdade entre os pugilistas da capital do país, que se treinam com regularidade, e os das províncias, que não se treinam, é enorme e periga a vida da modalidade.
No geral, dizer que a experiencia de Lucas Sinoia, quer como ex-atleta, quer como treinador, superou toda a desorganização havida em Xai-Xai, razão pela qual com apenas seis pugilistas o Estrela Vermelha de Maputo revalidou o título de campeão. E tem os dirigentes alaranjados como mos seus melhores parceiros para conquista de títulos. Este ano ganhou tudo, com destaque para o campeonato da cidade de Maputo e campeonato nacional.