O Ministério de Agricultura e Segurança Alimentar (MASA), através do Instituto de Fomento do Caju (INCAJU), pretende estabelecer um preço de referência para a castanha de caju como forma de pôr fim às arbitrariedades que se assistem na comercialização desta amêndoa. Com esta medida o MASA acredita que os produtores ficarão protegidos e estimulados a produzir mais.
O INCAJU propôs ao Conselho Consultivo do MASA a fixação do preço de referência da amêndoa do caju, como acontece com outros produtos agrícolas, tais como o algodão e açúcar. A medida foi aprovada há poucos dias e brevemente será submetida ao Conselho de Ministros para a sua homologação.
Com a sua aprovação, espera-se que se inverta o actual cenário em que quem determina os preços são os compradores, ignorando qualquer vontade dos produtores. Aliás, tais preços são determinados de forma bastante favorável para os compradores e intermediários o que contribua para a desmotivação dos produtores.
Mesmo antes de entrar em vigor, a medida está a animar os produtores a ponto de gerar um clima de alta de preços na presente campanha, coisa que acontece pela primeira vez nos últimos anos.
Actualmente, a castanha está a ser vendida a preços que se aproximam muito dos 50 meticais por quilograma dependendo da qualidade e da zona. “Por exemplo, em Muxúnguè estão a comercializar a 40 e 42 meticais, o que deixou os processadores informais boquiabertos porque estão habituados a um preço mais baixo. Tivemos que intervir e explicar que este é um produto de exportação e serve de matéria-prima, pelo que depende do preço do mercado internacional”, explicou Filomena Maiopue, directora do INCAJU.
Filomena Maiopue apontou que este sector emprega cerca de 12 mil trabalhadores, dos quais mais de 50 por cento são mulheres e no país possui até ao momento 14 empresas de processamento, sendo que no próximo mês de Agosto será aberta a fábrica de processamento da casca de castanha que serve para a produção do cashew nut shell liquid, ou simplesmente CNSL, um óleo muito apreciado no mercado internacional para a indústria de aviação e automóvel. Trata-se de uma unidade fabril que pertence a um grupo chinês e estará localizado na zona franca de Nacala-a-Velha, em Nampula.
Entretanto, a cultura do caju está com tudo na presente época, tanto em termos de produção, como na comercialização interna e no mercado internacional, o que tem estimulado aos produtores a aumentarem a capacidade de produção.
Aponta-se ainda que as condições climatéricas foram favoráveis para a cultura do caju na presente época e o resultado disso é que ainda é possível encontrar árvores completamente carregadas e tem castanha “aos pontapés” em todos os locais de armazenamento e venda. Este é um fenómeno que não acontecia há alguns anos, sobretudo na zona sul que vinha sendo fustigada por inundações.
A produção verificada nesta época coincide com um bom momento, pois o preço de amêndoa de caju no mercado internacional está bom. Por outro lado, a procura também tende a aumentar. Estudos realizados indicam que a tendência nos próximos 10 anos é elevar a procura em, pelo menos, 10 por cento, anualmente.
Este aumento representa um desafio para os países africanos que são produtores, com destaque para Moçambique que actualmente ocupa o quarto lugar na lista dos maiores produtores, depois de Costa do Marfim, segue Guiné-Bissau e Tanzânia.
No país a amêndoa é produzida e processada em dois modelos, nomeadamente em branco e final. O processamento final consiste na mistura com piri-piri, sal, açúcar, entre outros, enquanto em branco é apenas remoção da casca. Actualmente, Moçambique exporta os dois tipos de amêndoa para a Ásia, Europa, assim como Estados Unidos de América.
Segundo a directora do INCAJU, Filomena Maiopue, a comercialização da castanha de caju começou no presente mês de Janeiro, sendo que há garantia de stock até o próximo mês de Abril.
Neste momento foram comercializadas cerca de 74 mil toneladas, das 100 mil que estão previstas, a nível nacional. “As informações que damos se referem às quantidades comercializadas, porque ainda não temos capacidade de aferir quanto é que o país produziu. Isto significa que o que se comercializa não é a quantidade total da produção. As nossas estatísticas só conseguem contabilizar aquilo que não passa por nós”.
UMA TONELADA A 1500 DÓLARES
Moçambique é o primeiro país africano que está a fazer o processamento final da amêndoa de castanha de caju. Este facto, não só satisfaz os produtores como também o próprio governo, visto que a maior dos países exporta castanha bruta, perdendo assim a oportunidade de explorar os seus derivados, como é o caso da casca.
Segundo deu a conhecer Filomena Maiopue, o país prevê exportar no presente ano cerca de 10 mil toneladas de castanha bruta, cujo preço FOB (Livre a bordo dpo navio, onde o comprador assume todos os riscos e custos)no mercado internacional chega a 1500 dólares americanos por tonelada.
Este valor (FOB) é acrescido com uma taxa de sobrevalorização de oito por cento destinado aos programas do caju. Nos anos anteriores, a mesma quantidade (uma tonelada) de castanha era vendida por 1250 dólares americanos.
FUNDOS EUROPEUS PARA CAJU
A nossa Reportagem apurou que o governo de Moçambique, representado pelo INCAJU faz parte de uma iniciativa do caju denominada African Caju Iniciative (ACI), resultante de uma parceria entre cinco países africanos, nomeadamente Moçambique, Gana, Benim, Burquina-Faso e Costa do Marfim e o governo alemão, cuja finalidade é lutar para o desenvolvimento do caju. A iniciativa que foi lançada em 2009 conta ainda com o envolvimento do sector privado.
Durante este período, a agremiação tem vindo a desenvolver várias actividades junto dos produtores como o treinamento sobre o plantio de mudas, limpeza, pulverização, entre outros.
Recentemente, o mesmo grupo e três representantes dos cinco países estiveram na capital da Bélgica, Bruxelas, a fazer lobbies junto aos doadores da União Europeia (UE) para que passem a incluir este produto nas commodities que recebem fundos daquela instituição.
Durante a estadia naquela cidade foram mantidos encontros entre embaixadores e representantes de países africanos produtores de caju e dos países europeus que adquirem a produção africana para faze-los entender a importância deste produto para África e o resto do mundo, pois contribui para arrecadação de divisas pela exportação.
“Os embaixadores e os representantes com quem mantivemos contacto já estão preparados para defender a atribuição de fundos para o caju. Para os produtores, se esta cultura entra para as commodities será um avanço muito grande. Até então, todos os trabalhos feitos para promover são de iniciativa de cada país”, disse Filomena Maiopue.
Se esta iniciativa for aceite pela UE vai abarcar os países da África, Caraíbas e Pacífico (ACP). “Estamos a demonstrar ao mundo inteiro que esta cultura é muito importante e tem estado a ser negligenciada”.
MUDAS MELHORADAS
A directora do INCAJU disse ainda que o país produziu muita castanha de caju na última campanha e isso resulta de uma intensa actividade que a sua instituição está a levar a cabo no seio das comunidades de forma a melhor a produção desta cultura.
As acções incluem o plantio de mudas melhoradas, as quais são produzidas em viveiros específicos e controlados por aquela instituição. Trata-se de uma muda enxertada que começa a produzir depois de dois anos, quando a semente normal leva mais tempo e o resultado da muda enxertada tem sido bastante interessante em termos de quantidade colhida.
Neste momento, decorrem acções com vista a incrementar o maneio integrado para garantir que as plantas sejam limpas, podadas e pulverizadas para prevenir contra pragas e doenças diversas. A pulverização acontece nos meses de Maio a Agosto, a nível nacional, e chega a abranger cerca de cinco milhões de plantas. Mesmo assim, Filomena Maiopue afirma que ainda não é possível cobrir todo o país devido a exiguidade de fundos.
Num outro momento, a nossa Reportagem ficou a saber que a nona Conferência Internacional do Caju, realizada no final do ano passado, em Maputo, já está a trazer resultados positivos para o país, pois tanto os consumidores como os operadores operadores tiveram a oportunidade de ver que o mundo e em particular os países africanos estão comprometidos com a produção da amêndoa do caju. “Tivemos garantia de que vão comprar a nossa mercadoria. Tanto já existem alguns que querem fazer parte da iniciativa com seus fundos”, concluiu.