Início » Em que lixeira a Renamo quer deitar a unidade nacional?

Em que lixeira a Renamo quer deitar a unidade nacional?

Por admin

O líder do Partido Democrático de Moçambique (PADEMO), Wehia Monakacho Ripua, o político que mais vezes deu a cara nos primórdios da democracia multipartidária no nosso país, diz que a Frelimo e o seu candidato presidencial ganharam as eleições de 15 de Outubro de 2014, razão pela qual aos outros partidos políticos não resta nada senão aplaudir as boas políticas e criticar a má governação.

Comentando a pretensão da Renamo de governar as regiões aonde alega ter saído vencedora, o carismático veterano (tanto da luta armada de libertação nacional quanto da oposição moçambicana) quer saber qual será a lixeira escolhida pelo partido liderado por Afonso Dhlakama, para deitar a Unidade Nacional.

Está vivo, o antigo combatente da Frelimo, lembrado nas ex-zonas libertadas da luta de libertação nacional como um dos temíveis “bazookeiros” que ao lado de Pedro Seguro e outros artilheiros, deram a sua contribuição do lado mais acre, para o alcance da Independência Nacional, na frente de Cabo Delgado.

Encontramo-lo num dos bairros recentes da cidade de Maputo, depois de duas semanas à procura, numa residência espaçosa, que diz estar a alugar, porque a sua casa, situada no “coração” da cidade, está arrendada a outros interessados que pagam o suficiente para honrar o compromisso com esta e lhe resta dinheiro para rentabilizar aquela.

Ripua recorda-se, com alguma dificuldade de alguns episódios da luta armada na qual participou activamente; de alguns nomes de seus camaradas, tais como o herói Tomas Nduda e de outros comandantes, numa lista onde pontificam o já falecido coronel Nduba, Polela, para além de General Raimundo Pachinuapa, de quem chegou a ser o seu adjunto na frente operacional de Cabo Delgado.

Obrigou a que a nossa reportagem entrasse num exercício de “ sim, não, faleceu”, quando quis que lhe fossemos dizendo se determinado antigo combatente está vivo ou não, ou ainda se lhe víamos nos últimos dias, bem assim se interessava em saber da vida de cada um deles.

Estávamos perante aquele guerrilheiro, que da artilharia viria, depois da Independência e no limiar do multipartidarismo, a formar o PADEMO (Partido Democrático de Moçambique), que nas primeiras eleições se destacou na defesa do federalismo como a forma mais prática de pôr o poder nas mãos do povo, conforme as especificidades de cada região de Moçambique.

Vinha-lhe à ilharga, a UNAMO (União Nacional de Moçambique), de Carlos Reis, que defendendo quase o mesmo modelo de governação, pegava por aparentar ser deveras localista e circunscrever-se mais ao distrito de Milange, província da Zambézia, apesar de esforços visando a tornar o partido mais nacional.

Este não é tempo de ditadura

Na conversa com Wehia Ripua, esta semana, o domingo, queria ouvir dele se o federalismo que defendia, com perseverança e ardor tem algo que se pareça com a exigência da Renamo de cada partido governar aonde se acha vencedor em eleições gerais.

O que é que está a dizer a Renamo? Ela não sabe que este país é unitário e indivisível? Em que lixeira vai lançar a Unidade Nacional que tanto sacrifício exigiu e com ela conseguimos a independência? Não é isso que eu defendia, não defendia, nem defendo a partilha e esquartejamento de Moçambique, segundo as conveniências de cada político ou partido, respondeu Ripua.

Segundo defendeu, o PADEMO tinha uma ideia que se vingasse, devia ser seguida, dum federalismo, dentro do Estado unitário."Isso sairia da discussão que tivéssemos na Assembleia da República caso conseguíssemos assentos. A ditadura não funciona, tudo vem de consensos, não é porque queres que obrigas os outros fazerem o que queres".

Questionado se mantinha as suas ideias, diz perenptório:“Nós ainda queremos discutir as ideias de federalismo que alguns líderes políticos apregoam de forma, quanto a nós, errada, porque partem duma base de resultados eleitorais já realizadas, não levam ordinariamente o assunto à discussão. A guerra de hoje tem que ser por palavras, cada um dar a sua opinião e discutir até se encontrar a solução e não através de armas.

Frelimo e o seu candidato

ganharam as eleições de 2014

Os membros do PADEMO, segundo o entrevistado, estão à espera das próximas eleições para ver se conseguem algum dinheiro, ao estilo do que em 1994 se chamou “Trust fund” para fazer funcionar o partido e concorrer aos pleitos eleitorais.

Apesar de nos últimos dias encontrar-se um pouco debilitado devido à sua idade avançada, 74 anos, Ripua diz que continua a fazer política e se não reúne com os membros do partido é por falta dedinheiro, “pois, ninguém pode oferecer ao outro aquilo que não tem”.

No seu entender, para singrar politicamente é preciso ter algum dinheiro e neste momento quem tem é o partido Frelimo que está a governar porque tem vindo a ganhar por mérito as eleições gerais, incluindo as últimas.

O que sei é que quem ganhou as eleições foi a Frelimo e o seu candidato presidencial e, em política, quem ganha é que forma o governo. A nós resta aplaudir ou ficarmos calados. Eu costumo dizer que aqueles que não reconheceram a vitória deste partido até hoje têm problemas internos que não os conseguem resolver e distraem a população com críticas e ameaças infundadas,observou o líder do PADEMO.

O nosso interlocutor frisa que os militantes de tais partidos não deviam fazer barulho sobre os resultados eleitorais de 2014, que na sua opinião foram as mais transparentes de sempre porque todos os interessados observaram-nas quanto e como quiseram.    

Ripua, cujas palavras lhe escorrem com alguma dificuldade nos últimos tempos, fala de tudo que sabe, o que leva a crer que apesar de não aparecer com frequência na Imprensa, continua atento à actualidade política nacional.

Em curto espaço de tempo em que estivemos a trocar palavras com ele, antes daquilo que seria a entrevista verdadeiramente dita, o líder do PADEMO deixou transparecer que continua igual à si próprio. Considera-se político de grande gabarito e com muita simpatia junto dos cidadãos. Aliás, diz tudo o que lhe vem na alma e a língua deixa passar.

Natural de Marrupa, província de Niassa, Ripua diz estar na política há bastante tempo e conhece muito bem os dirigentes da Frelimo, duvidando que o actual presidente o tenha visto antes, provavelmente ainda em tenra idade, em Cabo Delgado. Mas do que tem a certeza é de Cosme Nyusi, um comandante a que se lhe havia dado o cognome de Nan´thova (imortal), na verdade, o tio do actual Presidente da República, Filipe Nyusi.

O nosso entrevistado diz ainda guardar boas recordações da sua participação na guerra de libertação nacional, na frente de Cabo Delgado, onde foi adjunto chefe de Raimundo Pachinuapa, na frente de combate na província de Cabo Delgado. Entretanto, lamenta:

Cumprida a missão, cada um está em sua casa, nem sei de que é feito de Pachinuapa, de Chipande só sei que tem uma empresa de autocarros. Esse actual ministro da defesa, M´tumuke, era jovem, mas muito combativo e bravo, mais alguns nomes que não me vem à memória.

Ripua considera-se um político atento e activo na arena política nacional, apesar de, segundo suas palavras, nos últimos tempos estar a “dormir” na sombra da bananeira para num “tic-tac” acordar e voltar a colocar a sua boca no trombone e falar bem sobre a política.

Sublinhou que em Moçambique, há espaço para todo o cidadão que quer singrar na política, desde que escrupulosamente obedeça a lei, razão pela qual todas as ideias devem ser discutidas no parlamento, o centro ideal para o exercício da democracia e debate político.

No país há espaço para todos, estamos a viver uma verdadeira democracia, razão pela qual eu abandonei a Frelimo, partido de que sou um dos fundadores para fundar o PADEMO, aí expressar minhas ideias de uma forma diferente, isto é, criticar o que é mau e elogiar o que está bom, disse Ripua para quem a Renamo deve respeitar a lei e não pautar pela desordem e ameaças à divisão do país.

O país está saudável

Num olhar sobre o estágio socio-político, económico do país, Ripua, considera-o aceitável, uma vez que, no seu entender, regista-se um crescimento assinalável, apesar de reconhecer que ainda há muito caminho pela frente, sobretudo no que diz respeito ao combate à pobreza.

Para ele, o actual Chefe de Estado, Filipe Jacinto Nyusi, é um dos exemplos do diálogo permanente com as lideranças políticas, apesar de, em algum momento, não ser compreendido, mas não o condeno, tem que ser assim mesmo, dirigir um país não é como estar a frente de uma única família, ele está a dirigir várias famílias moçambicanas, governar não é fácil.

No seu entender, o país está bem encaminhado, há democracia, isto é, ninguém é perseguido por emitir uma opinião diferente de quem está no poder “as pessoas falam à vontade, dizem tudo o que lhes vai na alma, acabou a ditadura e é isso que o líder da Renamo tem que compreender e não impor as suas pretensões políticas à força, com ameaças do retorno a guerra”.

Como político tenho a plena consciência de que há problemas que devem ser resolvidos pelo governo, mas não podemos afirmar categoricamente que está a governar mal, porque mesmo gerir uma família não é fácil, imaginem quem tem que dirigir o país”.

Os membros do PADEMO

ainda estão a “dormir”

Para Wehia Ripua os membros do seu partido ainda continuam a “dormir” e ninguém sabe quando é que vão acordar, apesar de ter a convicção de um dia virem a despertar do sono profundo a que estão mergulhados, desde que haja dinheiro.

O PADEMO continua igual a si próprio, mas neste momento estamos calados porque não temos dinheiro, até porque ninguém aceita contribuir para o partido, porque ele próprio não tem nada. Mesmo a Frelimo se faz reuniões é porque está no Governo, daí que consegue alguns financiamentos”,disse, acrescentando que o importante é continuar a fazer seu barulho democraticamente e não ameaças de divisão do país.

Acrescentou que há dias recebeu telefonemas dos membros do partido que estão nas províncias a exigir para que se faça alguma coisa, a exemplo duma reunião do partido, mas isso ainda não aconteceu e nem está para breve por falta de fundos.

Neste momento estou calado mas pensando em surdina sobre o que fazer para responder a todos aqueles que tem saudades das minhas intervenções”,disse Ripua embora reconheça não ter muita força devido à sua idade avançada.

Questionado sobre se a idade não seria um impedimento para o seu reaparecimento em “grande”, o nosso interlocutor afirmou que houve tempo que algumas pessoas o tentaram afastar da liderança do partido, debalde. Voltaram à estaca zero. Eles têm consciência de que sem Ripua não podem avançar, enquanto eu estiver vivo, é melhor esquecerem, sem a minha pessoa não irão a lado nenhum.

Ainda no capítulo de funcionamento do partido perguntamos-lhe aonde e quando fará alguma declaração ou emitirá opinião sobre assuntos políticos, ao que respondeu nos seguintes termos:

 “Como os outros líderes da oposição, eu e os meus membros do partido estamos a “dormir”, agora cada um na sua casa, porque não temos sede própria, o governo não está interessado em que os seus adversários políticos tenham pelo menos instalações próprias”.

Ripua frisou ainda que os líderes dos partidos políticos enfrentam problemas sérios, não têm dinheiro para fazer funcionar a sua máquina partidária e quem fica beneficiado com este andar da carruagem é o partido no poder que faz e desfaz a seu belo prazer.

De acordo com a nossa fonte, a comunidade internacional tem exercido alguma pressão no sentido de haver políticas públicas adequadas, onde todos se beneficiam dos financiamentos, mas ela mesma não pode dar dinheiro à oposição.

Portanto, os partidos da oposição acabam envelhecendo sem terem feito nada, por causa da falta de fundos, mesmo a Renamo não tem feito algo significativo porque não tem recursos financeiros”,disse Ripua para quem o governo não pode dar dinheiro aos outros partidos sob o risco de ser derrubado. 

Alguma oposição não ajuda

O líder do PADEMO diz ser com tristeza que acompanha os pronunciamentos de alguns líderes da oposição que na sua óptica não estão comprometidos com o enraizamento da democracia multipartidária.

Ripua afirmou que há um “certo partido” que normalmente após as eleições reclama vitória enquanto na verdade tem consciência de que perdeu nas urnas.

A oposição política deve crescer e deixar de fazer barulho no fim das eleições e deixar o vencedor governar à vontade, neste caso a Frelimo que até as últimas eleições foi quem apresentou o melhor manifesto eleitoral. Portanto, aos outros, incluindo-nos, só nos resta aplaudir aquilo que vai bem e criticar as más políticas”,disse Ripua para quem dentre os males, está a má distribuição da riqueza.

Sobre se conhecia o paradeiro da liderança da Renamo o nosso entrevistado disse que tem estado a ouvir através da Imprensa que Afonso Dhlakama se encontra em Santundjira, distrito de Gorongosa, província de Sofala.

Não sei onde ele está. Vocês sabem? Eu tenho ouvido de que ele está em Santundjira, não sei a fazer o quê, se bem que, na minha opinião, sendo um político daquela estatura devia estar na cidade para ser ouvido ou fazer passar as suas ideias politicas. Portanto, não faz sentido um homem de cabelo branco como ele andar escondido nas matas, e dizer que está a governar…por telefone,satirizou Ripua apelando a Dhlakama para abandonar o belicismo.

Texto de Pedro Nacuo e Domingos Nhaúle

Você pode também gostar de:

Propriedade da Sociedade do Notícias, SA

Direcção, Redacção e Oficinas Rua Joe Slovo, 55 • C. Postal 327

Capa da semana