Alguns alunos com idades que variam entre 13 e 17 anos, do curso diurno, na cidade de Maputo, consomem bebidas alcoólicas e drogas. Fazem isto no recinto da escola com o sol a raiar e de uniforme.
Vimos isto na Escola
Secundária Estrela
Vermelha, em Maputo,
unidade de ensino que
está paredes-meias
com o famigerado mercado do
Estrela, onde se vende quase
tudo.
Cenário similar envolve a Escola
Secundária Josina Machel,
também na capital do país, que
tem nas imediações barracas
recheadas de diferentes tipos de
bebidas alcoólicas. Os seus proprietários
não observam a idade
e a lei quando se trata de vender.
Alunos do curso diurno têm livre
acesso a tudo.
A falta de decoro, de disciplina
e urbanidade acaba ditando
regras nos estabelecimentos de ensino, sendo frequentes situações
em que crianças tentam
dominar o professor.
O consumo de álcool, e também
de droga, por alguns alunos
de tenra idade, sobretudo raparigas,
é preocupante. domingo
apurou que, infelizmente, esta é
uma realidade extrapolável para
outros recintos escolares na cidade
de Maputo e não só.
“O mais grave é que são
crianças entre 12 e 15 anos
que, precocemente, são desencaminhadas”,
queixa-se um
professor.
E não faltam exemplos: no
presente ano lectivo, seis raparigas
da 10.ª classe foram encontradas
a fumar soruma na Escola
Secundária Estrela Vermelha
e três alunas da 11.ª na Josina
Machel. Na Noroeste-1 foram
encontradas, no ano passado,
três alunas da 10.ª classe embriagadas.
Facto curioso: relatos daqueles
estabelecimentos de ensino
mostram que dos grupos surpreendidos
nenhum foi encontrado
a beber cerveja. Todos traziam
as chamadas bebidas secas, nomeadamente
"Tentação", "Soldado",
entre vários tipos vinhos.
Alguns alunos vêm das suas
casas já embriagados ou drogados,
outros trazem uma garrafa
de casa, escondida numa pasta,
para consumi-la com os colegas
da turma ou escola. Outros ainda
contribuem e compram as
“secas” nos mercados abertos
nas imediações das escolas.
Durante a nossa estada na
Escola Josina Machel, ficámos a
saber que alguns alunos consomem
bebidas e drogas nos sítios
pouco frequentados da escola.
Por exemplo, no último piso da
Escola Secundária Josina Machel
são visíveis restos de cigarros,
soruma, caixas de fósforos
usados, assim como pacotes e
garrafas de bebidas já consumidas.
No local ficámos a saber que
para ludibriar os professores os
alunos compram bebida álcool e
põem-na nas garrafas de "Fizz",
uma variedade de sumo.
No presente ano, a Escola
Secundária Estrela Vermelha
detectou pelo menos cinco grupos
de cinco a seis alunos a se
embriagarem ou a fumarem soruma.
Alguns destes foram surpreendidos
na casa de banho,
outros no recinto da escola, outros
ainda na sala de aula. Já na
Josina Machel foram detectados
10 alunos.
Aos professores, contam, não
é permitido vasculhar as pastas
dos alunos, mas, devido ao comportamento
que estes apresentam
nas salas de aula, sentem-
-se na obrigação de desrespeitar
aquela medida e obrigam-nos a
abrir as suas pastas. é aí que se
deparam com bebidas, cigarros,
fósforos e isqueiros.
NOUTRAS PROVÍNCIAS
A nossa equipa de Reportagem
procurou saber telefonicamente
sobre como é que a
situação é gerida noutras províncias.
Contrariamente ao que
se verifica na cidade de Maputo,
os chefes de departamento de
programas especiais das províncias
de Manica, Nampula, assim
como o porta-voz da Direcção
Provincial da Educação de Cabo
Delgado disseram que naqueles pontos do país não há relatos da
existência de alunos que estudam
embriagados ou drogados.
A situação deve-se à consciencialização
feita pelos professores,
tanto na sala de aula, assim
na formatura para entoação
do hino. Na ocasião são enunciados
os prejuízos do consumo de
bebidas alcoólicas e drogas.
Entretanto, o director provincial
de Combate à Droga em
Sofala, António Semente, disse
que a situação é preocupante
naquela província, visto que
é uma das causas que leva as
crianças a desistirem da escola.
Para inverter o cenário, a Direcção
Provincial de Combate à
Droga tem orientado palestras,
debates e peças teatrais, cujo
conteúdo são as consequências
do vício de consumo de álcool e
droga.
MEDIDAS
Uma das medidas encontradas
para fazer face à situação é
expulsar os visados ou transfereri-
los para o curso nocturno.
Contudo, antes são chamados
os seus pais ou encarregados de
educação para serem informados
do sucedido.
Entretanto, a estratégia não
está a ajudar a resolver o problema,
pois a tendência nos últimos
tempos é de aumentar o
número de alunos consumidores
de estupefacientes e álcool.
As direcções das escolas
enfrentam outras dificuldades,
pois quando mandam o aluno
trazer o seu encarregado, às
vezes contrata um amigo ou alguém
na rua para o representar.
Esses truques são descobertos
quando o director ou
professor pergunta ao suposto
O Governo aprovou em 2013 um regulamento
sobre o controlo de produção,
comercialização, o qual, entre outras medidas,
proíbe a venda de bebidas alcoólicas
a menores de 18 anos. A proibição
estende-se a pessoas com perturbações
mentais. Veda também a venda nas imediações
de estabelecimentos de ensino.
O regulamento orienta ainda os proprietários
dos estabelecimentos de venda
e de consumo de bebidas alcoólicas
para exigirem, em caso de dúvida, a
identificação de indivíduos que aparentam
ser menores de 18 anos de idade.
A violação destas medidas é sancionada
com uma multa que varia entre 20
e 80 salários mínimos, além da apreensão
dos produtos relacionados com
a infracção e que estejam na posse do
infractor.
encarregado o nome do pai ou
mãe do aluno. Casos há em que
os pais pura e simplesmente se
recusam a ir à escola.
Estamos preocupados
com futuro destas crianças
– Gilberto Reis, director da Escola Estrela Vermelha
O director da Escola Secundária Estrela
Vermelha, Gilberto Reis, não esconde a
sua preocupação face a este “fenómeno”
nas escolas e salienta que a situação pode
interferir no aproveitamento pedagógico,
visto que o aluno, ao invés de se preocupar
em estudar, passa a maior parte do seu
tempo nos vícios.
“É normal o aluno chegar à escola e
não entrar na sala, porque tem de atender
os seus desejos”, disse.
Acrescentou que “estamos preocupados,
pois pensamos que esses miúdos
estão a seguir um caminho que não vai
dar um futuro melhor. Não sabemos o
que vai ser do país nos próximos anos,
porque estes são os futuros quadros
desta nação".
Referiu que o mais preocupante ainda é
que quando os pais são abordados sobre
o assunto todos ficam indignados e pedem
à escola para ajudar a tirar o educando do
vício. "Como vamos fazer isso se o filho
passa mais tempo em casa? Nós ficamos
com ele apenas durante três ou
quatro horas por dia? Os pais têm um
papel muito importante nesta batalha,
têm de ser mais vigilantes", disse.
É um problema grave
– Arlindo Chechene, director pedagógico
da Escola Secundária Josina Machel
O director pedagógico da Escola Secundária
Josina Machel, Arlindo Chechene,
disse que o problema é grave, sobretudo
na sua escola, pois anualmente o consumo
de bebidas e substâncias psicotrópicas
tende a aumentar.
Chechene explicou que recentemente os
professores daquele estabelecimento de ensino
surpreenderam dois grupos, sendo um
composto por dois alunos e outros por três,
com idades que variam entre 12 e 13 anos
de idade. O primeiro grupo tinha uma garrafa
de whisky prestes a esvaziá-la. O outro
estava para iniciar a “jornada”. Nas pastas
tinham também dois isqueiros e cigarros,
para além de um cartão de banco.
"Chamei os encarregados de educação
dos componentes do primeiro grupo.
Até hoje nenhum veio. Já passam duas
semanas". Disse o nosso entrevistado.
Regulamento
O Governo aprovou em 2013 um regulamento
sobre o controlo de produção,
comercialização, o qual, entre outras medidas,
proíbe a venda de bebidas alcoólicas
a menores de 18 anos. A proibição
estende-se a pessoas com perturbações
mentais. Veda também a venda nas imediações
de estabelecimentos de ensino.
O regulamento orienta ainda os proprietários
dos estabelecimentos de venda
e de consumo de bebidas alcoólicas
para exigirem, em caso de dúvida, a
identificação de indivíduos que aparentam
ser menores de 18 anos de idade.
A violação destas medidas é sancionada
com uma multa que varia entre 20
e 80 salários mínimos, além da apreensão
dos produtos relacionados com
a infracção e que estejam na posse do
infractor.
Texto de Abibo Selemane
abibo.sulemane@snoticicas.co.mz
Fotos de Inácio Pereira e Jerónimo Muianga