Se no passado os laços de amizade e cooperação entre Moçambique e Itália tinham como substrato a componente de solidariedade política hoje por hoje os dois países estão em sintonia, quase que perfeita, sobre a necessidade de se darem passos mais ousados no capitulo das relações económicas.
A recente visita de trabalho do Presidente da República, Armando Guebuza, que foi antecedida por uma do Primeiro-ministro da República da Itália, Matteo Renzi, a Moçambique serviu exactamente para a criação de condições propícias para que no domínio económico a dinâmica passe a ser outra.
Entendem os dois países que já não faz muito sentido continuarem a apelidarem-se por “muito bons amigos” baseando-se mais no nível de contactos e interação política, já que não só de política vive o Homem.
Conforme reconheceu Guebuza, nos vários encontros que manteve com as autoridades governamentais e actores não estatais da Itália, há necessidade de impulsionar o estágio actual das relações de amizade e cooperação bilateral e, desta feita, com os olhos postos no aumento significativo do nível de transações e bem como colaboração a nível económico, sempre numa perspectiva de ganhos mutuamente vantajosos.
No entanto, e no seu estilo característico, Armando Guebuza mostrou-se cauteloso ao avaliar o estagio das relações entre os dois países e fez questão de sublinhar que não lhe parece que “devamos lamentar tanto porque no quadro das relações de cooperação económicas entre Moçambique e Itália fez-se aquilo que era possível fazer”.
É um facto que agora abrem-se novas oportunidades e devemos continuar a aproveita-las. Mas certamente que daqui a dez anos iremos questionar se não poderíamos ter feito mais e melhor.
Até porque esta foi uma visita que superou as nossas expectativas pela positiva. Os resultados da mesma traduzem-se nas garantias de reforço da cooperação e que coloca solidas bases para o aumento do investimento italiano em Moçambique, apontou Guebuza citando, a titulo de exemplo, o facto de uma delegação empresarial da região municipal de Reggio Emília, no norte da Itália, ter agendada uma visita ao nosso país para o próximo ano.
QUADRO ACTUAL DO INTERCAMBIO COMERCIAL
O actual do quadro do relacionamento económico entre os dois países começou, nos últimos anos, a ser caracterizado por algum aumento em termos de intercâmbio comercial a tal ponto que em 2013 o volume de transacções atingiu cerca de 411 milhões de euros.
Importa referir que tradicionalmente a Itália vinha registando um saldo comercial negativo com Moçambique, devido as grandes importações de alumínio, mas em 2013 registou-se um incremento das exportações italianas que se situaram em 57,7 milhões de euros, o que representa um crescimento de mais 28,1 por cento relativamente ao ano anterior. As exportações italianas para o nosso país consistem em instrumentos mecânicos, produtos químicos e metalurgia.
Também em 2013 as importações italianas de bens produzidos em Moçambique aumentaram em mais de 28,6 por cento e chegaram a atingir 353,8 milhões de euros.
Até ao momento os investimentos italianos estão focalizados nas áreas de hidrocarbonetos, infraestruturas, biocombustíveis, turismo, agroindústria, transportes e serviços. Dados do Centro de Promoção de Investimentos (CPI) o volume do Investimento Directo Italiano passou, em 2012, de 10,6 milhões de dólares norte americanos para quase 27 milhões de dólares, isto no ano passado, o que representa um crescimento de 150 por cento comparativamente ao ano anterior, com 15 projectos aprovados.
ECONOMIA
Delegação moçambicana cobiça
potencialidades de Reggio Emília
As autoridades governamentais moçambicanas manifestaram um interesse resoluto em explorar as oportunidades de negócio que o Município de Reggio Emília, que se situa numa província mais a norte da Itália, apresenta com destaque para o sector da agroindústria e agro-negócios.
Na ocasião, o Presidente Guebuza realçou que "a ligação entre Reggio Emília e Moçambique é a base da ligação entre Moçambique e Itália. Uma ligação forte, como eu pude testemunhar nos encontros que mantive com o Presidente da República Italiana, Giorgio Napolitano, e o Primeiro-ministro Matteo Renzi."
Guebuza disse claramente que há vontade ou, melhor, “impõe-se a necessidade de cooperar, continuar no caminho da amizade e solidariedade para traduzir estes laços também em termos de desenvolvimento das relações económicas”.
Durante a visita, de cerca de oito horas, do Presidente Guebuza àquele município, que dista a cerca de 500 quilómetros de Roma, as autoridades locais fizeram uma enumeração das potencialidades que a mesma detém na vertente económica e segundo Stefano Landi, Presidente da Câmara do Comercio de Reggio Emília, ao procedermos desta maneira junto do governo de
Moçambique fazemo-lo “na esperança de poder fortalecer um relacionamento lucrativo para ambos no campo económico também”
Nós estamos convictos de que temos bons projectos paraserem colocados em prática, temos alta capacidade de inovação e disposição para ouvir, dialogar e colaborar convosco no que for necessário. Aliás, estas são as características especiais do nosso meio ambiente local, disse Stefano Landi.
A título exemplificativo, Landi referiu que só naquela pequena região operam, por incrível que pareça, mais de 56.000empresas, o que “ traduz claramente oquão forte e enraizada é a propensão para investir, para correr riscos por conta própria, em criar realidades que podem produzir trabalho, desenvolvimento econômico e riqueza”.
Emtodos os setores, da província de Reggio Emilia tem alcançado resultados
excelentes quer a nível da mecatrônica (que combina
o melhor da mecânica, automotiva e eletrônica), cerâmica (fábrica de azulejos/ tijoleiras para revestimento de edifícios, ramo têxtil-vestuário, agronegócio.
Com cerca de 3.000 empresas
na indústria metalúrgica Reggio Emília apresenta numerosas especializações, que vão desde
máquinas agrícolas, equipamento de construção, hidráulica, tecnologia de alimentos, só para citar os principais.
Estamos a falar, portanto, de uma provínciaonde em cada dez habitantes de há uma empresa. Este espirito empreendedor decorre, pelo que se diz, das fortes tradições e vocações locais que resultaram na abertura
ao mundo e, certamente, não apenas a nível da economia.
ReggioEmília ocupa o quinto lugar em termos qualidade de vida proporcionada aos seus habitantes no conjunto das 107 províncias italianas. Nossos empresários são considerados entre os parceiros mais confiáveis
para os operadores estrangeiros, com quem mantêm relações sólidas e oportunidades comparação constante.
Entretanto, as relações económicas entre Reggio e Moçambique ainda são incipientes de tal forma que estão calculadas em cerca de 1 milhão de euros, resultantes de transações comerciais no que concerne a
produtos da industria metalúrgica , equipamentos eléctricos e electrónicos, etc.
Importa referir que Reggio Emília é uma província italiana, da região de Emília-Romanha, com cerca de 453 039 habitantes, uma densidade de 198 habitantes. A Emília-Romanha (em italiano Emilia-Romagna) é uma região situada no Norte da Itália com quatro milhões de habitantes e 22 124 km², cuja capital é Bolonha.
Esta região é composta pela união de duas regiões históricas: a Emília, que compreende as províncias de Placência, Parma, Reggio, Módena e parte da província de Bolonha, com a capital, e a Romanha, com as restantes províncias de Ravena, Rimini, Forlì-Cesena e a parte oriental da província de Bolonha.
Trata-se de uma região bem conhecida internacionalmente por por abrigar alguns dos mais famosos produtores de carros e motocicletas de Itália de entre os quais, Ferrari, Lamborghini, Pagani, Maserati (na visita a Itália o Presidente Guebuza usava uma viatura desta marca) e Ducati, sendo que alguns deles contam com museus, lojas e cafés ligados à estas marcas.
Fiz o máximo e não me sinto frustrado
– Armando Guebuza, em jeito de balanço preliminar dos dez anos da sua governação
O Chefe do Estado, Armando Guebuza, considera ter feito “o máximo daquilo que era possível fazer” embora admita que o resultado disso possa “não representar o máximo que o povo e até eu próprio queremos para Moçambique porque aspiramos todos muito mais”.
Falando recentemente para a Rádio Vaticano, em Roma, instantes depois de ter sido recebido e conversado com o Papa Francisco na Santa Sé, Guebuza salientou que a parte que fez representa o que era possível fazer nos dois mandatos em que esteve na governação de tal maneira que se sente “ perfeitamente realizado e não me sinto frustrado”.
O facto de a economia moçambicana continuar a manter um ritmo de crescimento de cerca de 7 por cento, ter aumentado a capacidade interna de formação do capital humano nas diversas áreas do saber a par de uma quase duplicação e maior expansão do número de estabelecimentos de ensino superior pelo país foram algumas realizações apontadas pelo estadista moçambicano como sendo ilustrativas dos passos firmes e galopantes que o país deu nos últimos anos.
Quando assumi a Presidência, em 2004, em termos de eletrificação tínhamos um quadro que indicava que apenas 7 por cento da população moçambicana é que tinha acesso a energia elétrica. Hoje temos 43 por cento da população com acesso a energia eléctrica. Este é um dos exemplos daquilo que era possível e do que foi feito, sustentou Guebuza anotando que obviamente o povo merece mais e melhor e expressou a convicção de que o seu sucessor irá dar continuidade a estas acções“e a um ritmo ainda mais acelerado”.
Aliás, Guebuza revelou ter mantido uma “conversa inspiradora” com o sumo pontífice com o qual trocou impressões em torno de assuntos relativos aos esforços em curso e os desafios prevalecentes no que concerne a erradicação da pobreza tanto em Moçambique assim como no mundo, no geral.
Na conversa com o Santo Padre pudemos compreender que temos uma coincidência objectivos. Sentimo-nos encorajados ao apercebermo-nos de que muitas das acções que o governo de Moçambique vem realizando no combate a pobreza e promoção da unidade nacional coincidem com as preocupações do próprio Papa o que é revelador de que sempre estivemos no caminho certo, disse Guebuza.
Texto de José Sixpence
Fotos de: Mauro Vombe e Acamo Maquinasse( cortesia)