Se em tempos idos, diga-se, longínquos, apanhar um transporte semi-colectivo de passageiros era uma tarefa simples, hoje a realidade é extremamente diferente. O que antes era um acto feito pagando um valor fixo para percurso definido, transformou-se num verdadeiro teste à paciência, ao bolso e à dignidade dos utentes.
Filas intermináveis, encurtamento e desvio de rotas, discussões e paralisações sem aviso prévio são parte da rotina de quem depende, diariamente, deste serviço. Não raro, sobretudo nas horas de ponta, os utentes são obrigados a desembolsar até o triplo da tarifa pré-estabelecida, sob o argumento de “viajar condignamente”, “falta de transporte” ou simplesmente pelo critério arbitrário dos transportadores.
A este cenário somam-se as recorrentes “entrevistas”, prática em que passageiros são escolhidos ou rejeitados conforme o interesse dos cobradores. Afinal, transportar “pedras”, como são chamados os passageiros que viajam de uma terminal à outra, é tido como prejuízo. E, segundo apurámos, contam com a ajuda dos “modjeiros” que fazem uma triagem dos passageiros como se de mercadoria se tratasse.
Neste exercício, nem os fiscais alocados em algumas terminais conseguem travar o fenómeno. Aliás, segundo os passageiros, são figuras meramente decorativas. “Estão lá só para cobrar taxas”, dizem. Assistem impávidos aos desmandos dos transportadores. Por isso, nos dias que correm, sair de casa com a certeza de chegar cedo ao destino, pagando o valor justo, é uma utopia na maioria das rotas da cidade e província de Maputo.
Lourena Manhiça, residente em Matola-Gare, resume bem o drama: “o que determina se chego a tempo ou não ao trabalho é a disponibilidade para fazer ligações”. Segundo ela, não basta cumprir a fila, “os chapas chegam cheios porque já vêm com pessoas que apanharam do outro lado. Entretanto, para viajar em pé, levam passageiros até a porta não fechar”, conta, enquanto esperava na paragem. Leia mais…