A questão da sucessão na liderança da Frelimo esteve no centro das atenções dos membros do Comité Central (CC) que estiveram reunidos nos últimos três dias, na cidade da Matola. Como diriam alguns locutores desportivos foi um jogo pouco aconselhável para hipertensos.
Durante o encontro que hoje termina os participantes aquela magna reunião apreciaram e debateram os relatórios da Comissão Politica, do Comité de verificação, do secretariado do CC, o desempenho do Governo, da bancada parlamentar da Frelimo de entre outros assuntos.
“Alta Tensão” é como se pode descrever o ambiente vivido na Escola Central da Frelimo, no bairro de Hanhane, Município da Matola, e por ai alem .Tudo por conta da histórica e decisiva missão que recaia sobre os cerca de duzentos membros da CC de eleger de entre cinco pré-candidatos aquele que deverá ser o candidato do partido no poder nas eleições presidenciais ora marcadas para 15 de Outubro próximo.
A Sessão do CC que hoje termina arrisca-se a figurar nos anais da historia não só da Frelimo como na de todo Moçambique em virtude da significância e simbologia que a mesma ostentou ao ter sido um verdadeiro “conclave” onde, em ultima instancia, ficou democraticamente decidido quem está próximo de ser o sucessor do Presidente Armando Guebuza na Ponta Vermelha. Há quem dizia que para os militantes da Frelimo tratava-se da eleição do candidato, mas para outros era, na verdade, a eleição do próximo Presidente da República.
Ate ao fecho da nossa edição estavam confirmadas as pré-candidaturas de Alberto Vaquina, Filipe Nyussi, José Pacheco, Aires Ali e Luísa Diogo. As candidaturas dos dois últimos surgiram na sequência da sugestão apresentadas há dias por alguns antigos combatentes a direcção da Frelimo, durante a reunião do Comité Nacional da Associação dos Combatentes da Luta de Libertação Nacional (ACCLN), para abertura de apresentação de mais propostas de pré-candidatos para além das três que resultaram da eleição havida ao nível da Comissão Politica.
Mas ontem foi o dia “D” (de decisão) para os membros do CC que depois de “muito sono perdido” tiveram a espinhosa missão de escolher aquele(a) “camarada” que entenderam ser o que melhor responde aos “Termos de Referência”, valores e princípios que a Frelimo apregoa.
Até por volta das 16 horas ainda não havia iniciado o processo da eleição do candidato da Frelimo (discutia-se o relatório do Gabinete Central de Preparação das Quartas Eleições Autárquicas) e as campanhas eleitoralistas dos “Big Five” iam ao rubro. Na verdade a campanha dos pré-candidatos decorreu mais ou menos sob o lema “vale tudo”.
Tratou-se de um verdadeiro jogo de esgrima entre os apoiantes dos diferentes pré-candidatos e dada atura a campanha foi ate polvilhada por alguns “golpes baixos” onde se salientou o maquiavélico recurso a chantagem, calúnias, difamação, muito dinheiro, etc.
Houve até caso de apoiantes de determinados pré-candidatos que em serviço de campanha eleitoral desentenderam-se a ponto de quase chegarem a vias de facto. Tudo isto decorreu nos bastidores do CC embora, pelo que se saiba, tais atitudes contrariam a directiva do partido em momentos desta natureza.
GUEBUZA TRAÇA PERFIL
DO CANDIDATO DA FRELIMO
O Presidente da Frelimo, Armando Guebuza, traçou, mais ou menos, o perfil do “camarada” que era suposto passar ao crivo dos membros do CC ao afirmar que “o quadro que vamos eleger deve inspirar em nós a confiança, a auto-estima, a Unidade Nacional, a cultura de paz, a harmonia social e a liderança para que os obreiros da nossa nacionalidade e as novas gerações de artífices do labor perene de construção da Nação Moçambicana se sintam impelidos a continuar a acreditar e a transformar esse nosso sonho colectivo de 1962 em realidade tangível”.
A Comissão Política, na sua qualidade de comité de mandatos, preconizada nos Estatutos do nosso Partido, traz a este órgão uma proposta de pré-candidatos a Presidente da República. Ao Comité Central, este órgão máximo da FRELIMO entre os congressos, agora em sessão, recai o dever e o direito de fazer a escolha, em definitivo, do nosso candidato Presidencial, no espírito e na letra do que os Estatutos do nosso Partido determinam, disse Guebuza.
Para Guebuza, o debate sobre o candidato da FRELIMO às eleições de 15 de Outubro próximo tem estado “a ilustrar como a FRELIMO determina a agenda política na nossa Pátria Amada e como muitos se interessam pela nossa agenda, uma agenda virada para o Futuro Melhor para todos nós”.
Os acalorados debates que emergem com o processo de eleição do nosso Candidato às eleições Presidenciais são o testemunho inequívoco de que a FRELIMO continua a ser a força motriz da sociedade moçambicana e que as nossas escolhas afectam, consciente ou inconscientemente, a confiança com que todos os moçambicanos encaram o futuro da nossa Pátria Amada e a forma como os homens de negócios assumem ou não Moçambique como local seguro para os seus investimentos. São também um indicativo muito poderoso de que os candidatos indicados pela FRELIMO continuam a ser vistos por todos como aqueles que reúnem maiores probabilidades de virem a dirigir o Estado, a todos os níveis.
Armando Guebuza realçou, a dado momento da sua intervenção, quea FRELIMO nasceu da conjugação de várias vontades, vontades essas que são alinhavadas por um diálogo profícuo, franco e aberto, um diálogo redentor e gerador de consensos que nos levam a priorizar o nosso empenho naquilo que é o essencial para a realização do nosso projecto político, firmado a 25 de Junho de 1962.
Num outro momento Guebuza, classificou a questão da sucessão no seio do partido que dirige como sendo um “ marco histórico, muito importante e decisivo” na vida desta formação política e que tem a ver com a capacidade da nossa cinquentenária FRELIMO de seleccionar, democraticamente, aquele que, de entre os melhores, oferece garantias efectivas de encarnar o espírito por detrás da agenda de 25 de Junho de 1962 que temos vindo a implementar através do nosso Governo.
Guebuza que falava no decurso da Abertura da III Sessão Ordinária do Comité Central (CC) da Frelimo, que em princípio termina hoje, disse que a missão dos cerca de 200 membros daquele órgão do partido no poder reside basicamente em “seleccionar aquele que vai continuar a tarefa e levar a bom porto a agenda de desenvolvimento social e económico desta Pérola do Índico”.
Neste exercício, há necessidade de valorizar cada conquista e, também de valorizar os fazedores destas conquistas, a começar pela geração do 25 de Setembro e todos aqueles que, imbuídos do sonho de liberdade e de dignidade do nosso povo e, equipados com a coragem, o arrojo, a bravura e a sagacidade ousaram, ontem, impor o nosso direito inalienável de liberdade e independência e hoje, em todas as frentes lutam para impor o nosso direito de não sermos pobres.