“Viu o SENHOR que a maldade do Homem se havia multiplicado na terra e que era continuamente mau todo o desígnio do seu coração (…), e isso Lhe pesou no coração” Genesis 6:5-6
O ano, ainda há pouco começou, tenrinho que nem um bebé recém-nascido. Por isso, antes de dar altos vôos por esse Moçambique e mundo fora, decido continuar por algum tempo a deambular por estes madzimbabwe,(amuralhados) de bloco e cimento protegidos por grades com diversificados desenhos e feitios, defendendo residências da aristocracia Maputense, que, paulatinamente vai “roubando” espaço aos becos apertados alguns sem saída dos Bairros periféricos, constituídos por casas de madeira, zinco e caniço. Esta é, a grande Metrópole Moçambicana, nossaAldeia Global. Não é por acaso que a edilidade a apelida de: “Maputo-Cidade próspera, bela, limpa segura e solidária”, slogan-mãe de todas as publicidades desta Cidade das Acácias, e já agora e dos Buracos também! Nas minhas andanças pela urbe, o que “constato”? Antes mesmo de me afastar do meu Bairro, um dos privilegiados da Urbe, conhecido no passado como “Bairro dos Cronistas, Poetas e Escritores”, hoje simplesmente COOP, verifico que, os únicos Homens de Letras Moçambicanos que dão nome à apenas duas Ruas, são aRua Aníbal Aleluia e a Rua Wily Wadington, dois “coitados” ladeados, (melhor dito cercados), por escrevinhadores Portugueses até hoje, (39 anos após desenvencilharmo-nos deles), e não sei porquê, a saber: Rua Eça de Queirós, Rua Fernando Pessoa, Rua Fialho de Almeida, Rua Almeida Garrett, Rua Gil Vicente, Rua Padre António Vieira, Rua Padre João Nogueira, entre muitos. Pergunto ao meu estômago: Eu, convivi trinta (30) anos com os descendentes daqueles “maludos” na terra deles sim, e não me beneficiei nada de nada, que significado terão para os Moçambicanos da geração presente!? A manutenção dos seus nomes é por puro saudosismo ou vassalagem aos Patrões de outrora!? Cadê Ruas com os nomes de conceituados homens de Letras Moçambicanos como Luís Bernardo Honwana, Hungulani va ka Khosa, Paulina Chiziane, Mia Couto, Armando Artur, Eduardo White, Noémia de Sousa, Aldino Muyanga, Hélder Mutéia, Lília Momplé, e tantos que tais? O meu estômago responde-me com um ruminar do ar que sobe até à boca provocando-me um sabor amargo, pois ainda é cedo e ainda está vazio! Infelizmente este é apenas o começo, pois, o reboliço começa logo a partir das quatro da manhã, e eu, acompanho e participo no ridículo “espetáculo” do roncar de carrinhas de “chapeiros” nas suas perigosas manobras “gincanescas” pelas ruas e avenidas, ante o sopegar de camionetas de carga, desviadas agora para apinhar gente que viaja, com o coração nas mãos, empilhada pior que bois, cabritos, ovelhas ou porcos, transportados nos mesmos moldes a caminho dos matadouros, com a salvaguarda de que, pelo menos o gado, esse viaja protegido por gradeamentos de ferro que ladeiam o veículo automóvel. Ao paço que, as pessoas de todas as idades e géneros, bem ou mal trajadas, viajam de pé, numa diversão vergonhosa, ridícula e perigosíssima, cada uma procurando apoio e protecção no vizinho de ocasião, quer apoiando os seus braços nos ombros deste ou daquele, quer colocando o tronco barrigudo nas traseiras duma senhora desconhecida, provocando-lhe aquela sensação típica que seria agradável se fossem apaixonados, porque ela até oferecer-se-ia para dar colo ao seu namorado, numa brincadeira salutar e sentiria com agrado o seu corpo quente nas suas nádegas; enfim, quer encostando ou apertando-se peito contra peito, tipo dois amigos quando se saúdam. Só que naquelas circunstâncias o aperto é de um afã literalmente penoso, pois trata-se de pessoas até aí, total e completamente desconhecidas. Claro que tudo isto acontece ante o olhar complacente e cúmplice de quem de dever, que só não bate palmas porque as cenas se sucedem continuamente ao longo de todo o dia e noite adentro sem cessar, sendo o único intervalo o transporte dos últimos jornaleiros e estudantes nocturnos. Motivos de sobra tenho, para me preocupar por esta situação, pois, resido e contribuo com todos os impostos e taxas estabelecidos por Lei, na esperança de um dia gozar tranquilamente o prazer de ver concretizada na prática o espírito e a letra do Slogan acima citado. Por isso, cedinho, caminho para uma das Recebedorias Municipais, no caso, para o da Sede do Distrito deKAM’PFUMO, na Avenida Eduardo Mondlane, ao lado da Escola 3 de Fevereiro, uma das mais emblemáticas da Urbe. O calor é avassalador. Porém, torna-se ainda pior quando temos de formar, não uma fila organizada, mas uma confusão de empurrões cotoveladas e pisadelas, não importa se velho, adulto ou jovem, homem ou mulher tudo para podermos cumprir com as nossas obrigações de citadinos. Depois de hora e meia de suor e cheiro a catinga, alguém descobre-me no meio da multidão e me sussurra no ouvido que melhor sítio é no Aterro da Maxaquene, na Baixa da Cidade, pouco conhecido e por sem confusão. Feito e dito. Infelizmente o dia continua madrasta, pois sem mesmo sem nenhuma fila, calho com uma “atendente” mal-humorada, “Mexa” tipo porco-espinho deixando o couro cabeludo visível à distância, qual careca feminina. (As pessoas não se olham ao espelho antes de sair de casa), penso eu com a minha barriga ainda vazia). Com azedume e sem modos, grita-me humilhantemente em voz alta de modo que todos saibam que eu rasurei o precioso modelo “M/1C – IAV”, tão claro e simples de preencher, e que por isso sou ignorante! Engulo com uma dificuldade visível aquele tratamento e deixo que ela me explique como devia proceder sempre naquela voz de Pavoa envaidecida. No fim, deixo uma recomendação: “Senhorita, não grite para o público e seja paciente e branda se quiser seguir a carreira de servidor do Povo. Conselho dum amigo.” Abre a boca, mas não consegue balbuciar nada pois todos os presentes olharam para ela.De regresso a casa, percorro a distância de 2.300Metros em meia hora de carro, devido ao engarrafamento. Maputo é assim mesmo. Até um dia!