A população de Guijá, em Gaza, era forçada a suportar um desvio de 50 quilómetros para alcançar o vizinho distrito de Chókwè antes da chegada da ponte sobre o Limpopo, inaugurada pelo Presidente da República, Armando Emílio Guebuza, em Fevereiro de 2007. Uma distância hoje percorrida a pé, e em alguns minutos, constituía mote para uma viagem sofrida em estradas alternativas quando a população não se expunha ao perigo de atravessar o Limpopo em pequenas embarcações, em condições não muito seguras.
Doentes e alunos viviam esta saga numa “odisseia” que ficou para a história. O sofrimento não poupava crianças e velhos. Para a população de Guijá, a vila de Chókwè, “coração” da economia local, parecia terra distante, mesmo apontando, a dedo, alguns centros comerciais do outro lado de Limpopo.
Por outras palavras, Chókwè e Guijá ficaram “condenados” a largar a relação de vizinhança, de muitos anos, quando uma ponteca separava-os numa distância ténue, a calcorrear pé ante pé em escassos minutos e intervalos milimétricos. No auge da agressão rodesiana, movida pelo regime fascista e sanguinário de Ian Smith, a pequena infra-estrutura foi destruída.
Era a vingança da Rodésia racista pelo apoio prestado por Moçambique às tropas de Mugabe, que lutava pela Independência do Zimbabwe. Desde então os dois distritos moçambicanos deixaram de ser tão próximos, barrados pela imensidão do rio Limpopo.
A ALEGRIA TRAZIDA PELA PONTE
A inauguração da ponte sobre o Limpopo pelo Presidente da República, Armando Emílio Guebuza, em Fevereiro de 2007, “reaproximou” Chókwè e Guijá, restabelecendo a equação económica entre ambos distritos que já tinham vivido em paridade na componente preço de bens e serviços.
Zacarias Soto, administrador de Guijá, fala-nos ele próprio da alegria que o povo experimentou com a chegada da ponte. “O nosso povo vive alegremente. Na ausência da ponte o sofrimento era enorme”, salienta.
Acrescentou que antes de Armando Guebuza “levar a ponte à Guijá” agentes económicos locais recebiam bens e serviços de Chókwè via pequenas embarcações ou suportando desvio de 50 quilómetros até ao Açude de Macarretane, o que acarretava custos adicionais.
A população notava, perante um cenário destes, que afinal a distância tinha preço. Era incógnita de uma equação insuportável nos bolsos de quem lutava contra a pobreza. “A vida das pessoas ficava difícil”, recorda-se o administrador Soto.
Sublinhou que a ponte que estabelece ligação entre Chókwè e Guijá significou um alívio muito grande para a população de Guijá, cuja actividade económica definhava devido à tendência dos preços.
“Agora temos preços iguais aos de Chókwè. Antes tínhamos que agregar valores adicionais de transporte”, disse visivelmente satisfeito.
MUITA GENTE MORREU
A TENTAR ATRAVESSAR O LIMPOPO
Laura Macamo, residente no distrito de Chókwè, província de Gaza, disse à nossa Reportagem que antes da construção da ponte sobre o rio Limpopo recorria a barcos para atravessar para o vizinho distrito de Guijá. “Agora a vida é diferente”, ressalvou.
Simone Moiane, residente no bairro 7 de Abril, explica-nos que antes da ponte circulou um batelão que transportava cidadãos entre Chókwè e Guijá. Nessa altura uma pequena ponteca ajudava na ligação entre os dois distritos, contudo foi destruída pelo regime rodesiano de Ian Smith.
Com a destruição da ponte veio o sofrimento. Pequenas embarcações passaram a ser o único recurso na ligação entre dois distritos vizinhos.“Os barcos viravam, às vezes com viajantes dentro”, recorda-se o nosso entrevistado com alguma tristeza.
Sublinhou que todo este cenário de drama “foi embora” quando a ponte chegou em 1997. “Agora a vida melhorou. É fácil ir ao hospital. É fácil ir à escola”, ajuntou.
Julieta Mabunda recorda-se, igualmente, dos tempos de tristeza. “ Sofríamos muito para irmos ao hospital em Chókwè ou Xai-Xai. Às vezes os barcos viravam e morria muita gente”.
Para Angelina Balói, a ponte tem estado a ajudar muito, pois a comunicação com o vizinho Guijá era impossível sobretudo nos dias de chuva. “Agora estamos muito bem”, disse ela pedalando a sua bicicleta.
Recolhemos estes depoimentos mesmo na berma de uma ponte que reflecte o orgulho do povo moçambicano que acredita que a pobreza só pode ser vencida com uma obra de cada vez.
Neste momento estão em curso obras de manutenção de rotina da ponte sobre o rio Limpopo, no âmbito de um financiamento do Fundo de Estradas num investimento que ronda os 4 268 929,50 meticais, prevendo-se a obra seja entregue até finais do ano em curso.
Chòkwè e Guijá estão ligados outra vez. Recuperaram a alegria de outrora e revivem uma alegria interrompida nos tempos de Ian Smith.
Bento Venâncio