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Disputada ao milímetro até ao dia da votação

Por admin

Está tudo a postos para que na próxima quarta-feira, dia 20 de Novembro, o candidato da Frelimo para a presidência do município de Quelimane, Abel Albuquerque, bem como o do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), Manuel Araújo, “colham” os resultados da “caçada” que fizeram durante os 15 dias definidos para a campanha eleitoral.

A campanha que entra hoje na sua fase derradeira foi caracterizada, no cômputo geral, por um ambiente ordeiro, onde casos de confrontações entre apoiantes de candidatos e partidos aconteceram de forma esporádica, pelo menos até ao fecho da nossa edição. 

Na tarde de ontem, as duas organizações políticas realizaram “showmicios” em bairros periféricos da cidade de Quelimane, os quais foram marcados por discursos dos candidatos, onde a mensagem de fundo foi o pedido de voto a todos os munícipes com capacidade eleitoral, para que possam concretizar as ações constantes dos seus manifestos eleitorais.

Quelimane conta com cinco zonas municipais, onde os dois candidatos desdobraram-se em contactos “porta-a-porta” e em lugares públicos, sempre com a intenção de conquistar mais votantes. Esse processo era por vezes acompanhado por ofertas ocasionais de material de campanha, camisetes, capulanas, bonés, com os símbolos e rostos de cada um estampado.

Nalguns casos, a nossa Reportagem testemunhou casos de potenciais eleitores que recebiam no mesmo dia caravanas da Frelimo e do MDM e desse namoro alguns dos seus agregados familiares ficavam a “ganhar” duas camisetes ou capulanas de partidos e candidatos distintos.

 O último a chegar mandava retirar a camisete do primeiro “conquistador” e assim ficava uma falsa ideia de que “estamos juntos”. Mas a certeza das certezas só se revelará no dia 20 de Novembro próximo. No entanto, ambos candidatos afirmam estarem convictos na vitória nas eleições de quarta-feira próxima.

RESGATAR QUELIMANE E SEUS VALORES

Com efeito, o candidato da Frelimo, Abel Albuquerque, sustenta a sua convicção na vitória pelo facto de que os potenciais eleitores abordados durante os 15 dias de actividade intensa de caça ao voto terem-lhe garantido que iriam “votar bem”.

Albuquerque que virou e revirou as cinco zonas municipais que compõe a área de jurisdição do Município de Quelimane em contactos interpessoais vulgarmente conhecidos por “porta-a-porta” explicou aos seus potenciais eleitores que “votar bem” significa “escolher o símbolo do “batuque e da maçaroca” e seu candidato, porque estes são sinónimos de felicidade”.

Licenciado em Direito e até a pouco director dos Registos e Notariado na Zambézia, o candidato da Frelimo percorreu quase todos os bairros desta autarquia, onde, de casa em casa, abordava os seus residentes pedindo explicitamente para que não hesitem em votar nele e na Frelimo no dia 20 de Novembro.

O candidato da Frelimo “namorou” inúmeros agregados familiares aos quais prometeu dar continuidade ao programa definido pelo seu partido e iniciado pelo seu camarada e antigo edil daquela autarquia, Pio Matos.

Vim pedir para votarem certo. E se me perguntarem o que é votar certo direi que é votar onde tem o símbolo do “batuque e maçaroca” e na minha pessoa. Dessa maneira vocês estarão abrindo caminho para a resolução dos problemas que apoquentam a cada um dos munícipes de Quelimane em cada uma das zonas e bairros que compõe esta cidade que tem um potencial forte para singrar”, disse Abel Albuquerque interagindo com diferentes famílias e personalidades influentes do bairro de Chuabo Dembe.

Na sua caça ao voto, Albuquerque escalou também algumas confissões religiosas, onde foi pedir voto e já na tarde da sexta-feira última, coadjuvado pela chefe da brigada central para eleições na província da Zambézia, Verónica Macamo, interagiu com funcionários públicos afectos a diferentes instituições do Estado na provincial da Zambézia e particularmente na cidade de Quelimane.

Naquele encontro bastante concorrido, Abel Albuquerque disse que não tinha uma varinha mágica para resolver os problemas do município de Quelimane, porque essa tarefa só poderá ser possível se trabalharmos juntos, daí que a minha governação municipal será participativa e focalizada na consulta permanente e na satisfação dos anseios dos munícipes. Talvez aproveite para dizer aqui aos meus colegas funcionários públicos que não olhem muito para a minha estatura média, mas saibam que diante de vós está um homem humilde pronto para vos servir. Não foram vocês que me escolheram, mas eu escolhi para vos servir com dignidade e respeito preservando todos os princípios e valores que ultimamente rareiam nesta nossa cidade”, disse Albuquerque.

Por seu turno, a chefe da brigada central de eleições na Zambézia, Verónica Macamo, reforçou a mensagem do candidato Abel Albuquerque afirmando que basicamente o que o seu partido pretende é criar condições para o desenvolvimento sustentável do município de Quelimane e o alcance do bem-estar social dos seus munícipes.

Felizmente começou a ficar claro para os munícipes de Quelimane que os problemas de saneamento e reabilitação de estradas não foram resolvidos pelo actual edil deste município, Manuel Araújo, como ele próprio às vezes faz questão de assim dar a entender. Estas obras foram programadas e executadas pelo Governo da Frelimo com apoio financeiro de nossos parceiros de cooperação. E este programa vai continuar. E se votarem no candidato Abel outras maravilhas irão ocorrer aqui em Quelimane, disse Verónica Macamo falando perante centenas de funcionários públicos que quase lotaram o pavilhão de Benfica de Quelimane.

Num outro momento, Verónica Macamo denunciou, perante os funcionários que participavam naquele encontro, o facto de em 2012 o Governo central ter desembolsado avultadas somas em dinheiro para o município de Quelimane, na perspectiva de que o mesmo montante seria utilizado no combate à pobreza urbana só que misteriosamente “este dinheiro não foi canalizado aos munícipes desta cidade para poderem investirem em projectos que possam gerar riqueza, produzir comida e renda. Este dinheiro deveria ter sido gerido tal como foi gerido noutros municípios do país. Aquele valor provem das contribuições dos cidadãos moçambicanos pela via do pagamento de impostos. O ponto é que não se sabe o que o actual edil fez com este dinheiro”, disse Macamo.

O CANDIDATO “ MESTRE TAMODA”

A actividade de campanha do candidato do MDM, Manuel Araújo, foi irregular nesta última semana. Na primeira semana, às primeiras horas da manhã era normal enviar sms`s para alguns jornalistas a comunicar a rota que iria seguir a sua caravana para efeitos de campanha.

Nesta última semana, a sua actividade tomou um outro rumo. Geralmente, iniciava às 6 horas da manhã e prolongava-se o mais tardar até às 11 e acto contínuo o candidato Manuel Araújo desaparecia de circulação, pelo menos da cidade de Quelimane. Tornava-se um verdadeiro enigma descobrir onde se encontrava.

Nos últimos dias da campanha, Araújo apenas se desdobrou-se em contactos fugazes em bairros onde pretende granjear alguma simpatia e lá se metia a pedir votos sob promessa de dar continuidade ao “trabalho” por ele iniciado nos últimos dois anos.

Araújo apostou na estratégia de apontar algumas obras que foram levadas a cabo em Quelimane no âmbito do MCC como sendo resultado da sua ação governativa, enquanto estava a frente deste município facto que começa a não convencer muita gente.

Para variar, ainda na primeira semana da campanha, Manuel Araújo abandonava os seus apoiantes em Quelimane e percorria centenas de quilómetros de carro para Maganja da Costa e na última para Mocuba, Gurué e Milanje, onde, curiosamente, era visto a “reforçar” a campanha dos outros candidatos do MDM naqueles municípios. Em Gurué, reporta-se que ele teria esmurrado o proprietário de um parque de estabelecimento, tendo depois rumado para Milange.  Enquanto isso, o seu reduto ficava desguarnecido e os seus apoiantes “desnorteados” e com cada vez menos força anímica de continuarem com a campanha eleitoral. Até mesmo a sua principal base de apoio, os ciclistas e vendedores informais de Quelimane, parecem estar pouco sintonizados com o jovem candidato que já começou a ganhar a alcunha de “O Doutor Mestre Tamoda”, que fala muito, mas diz rigorosamente nada de concreto.

A quase “passagem meteórica” de Manuel Araújo na presidência do município de Quelimane parece não deixar saudades no seio de muitos munícipes que agora se sentem defraudados e frustrados por terem acreditado cegamente nas “ mil e uma promessas” do actual edil.

Com efeito, Araújo lança-se novamente à corrida para presidência do Município de Quelimane numa altura em que tem entre as suas gavetas uma “pilha” de acções por realizar e promessas eleitorais pendentes, que as fez, de viva voz, no contexto da realização das intercalares de Novembro de 2011 e jurou cumprir antes destas eleições autárquicas de quarta-feira próxima.

Na verdade, o candidato do MDM em Quelimane apresentou nessa época um manifesto de cerca de 15 páginas que, em bom rigor, se assemelhava, pelo menos em termos de acções transversais alistadas, a um programa de governação demasiadamente ambicioso para uma autarquia local. 

Analistas locais e ligados ao sector empresarial e em demonstrações factuais, dizem que Araújo não realizou 97 por cento do seu programa de governação apresentado aos munícipes nas intercalares de 2011.

Destaca-se, a título de exemplo, o facto de Manuel Araújo ter fracassado no cumprimento de promessas como a de “ criar um programa que visa (re)organizar a cadeia produtiva para o abastecimento regular de produtos alimentares agrícolas, pecuários e manufacturados ao município, estimulando parcerias entre  diferentes sectores afins ao nível provincial e regional”.

Mais, na tentativa de “namorar” o eleitorado que reside em zonas onde se desenvolve potencialmente a pesca do tipo artesanal, o actual edil de Quelimane prometeu “apostar na construção e manutenção de embarcações de pequeno porte para ampliar e diversificar a actividade pesquisa, de modo a que o pescado seja de fácil acesso a todos”.

Outras promessas feitas por Araújo, aparentemente de ânimo leve, têm a ver com a “reabilitação da marginal de Quelimane, jardins e parques, bem como levar água potável e canalizada a cada residência legalmente construída”. Nada disto foi feito.

Entre outras promessas sublinhe-se a criação de uma empresa de transportes públicos bem assim a substituição de bicicletas por “txopelas”, velocípede com motor de três rodas, o que não conseguiu realizar afastando deste modo a sua base de apoio.

Aliás, para agravar a situação, nos microfones da Rádio Moçambique (RM), quando questionado sobre a actividade dos taxistas, ele afirmou que a polícia camarária teria de trabalhar no sentido de pôr ordem ao que chamou de “desrespeito e violação ao código de estrada vigente no país”.

O feito único que se reconhece da governação de Araújo foi a execução de um dos projectos iniciados por Pio Matos relativo à colocação de semáforos em algumas artérias da urbe, pavimentação e resselagem de duas ruas que estavam degradadas, bem como a colocação de pavês numa terceira rua, obras estas que se diz terem custado qualquer coisa como nove milhões de meticais aos cofres do município.

 Tal exercício foi inscrito no seu manifesto como tendente a melhorar a segurança nos transportes de pessoas e bens, mas “esqueceu-se” de cumprir a promessa de encorajar parcerias entre o sector privado e público (com o envolvimento do governo municipal) para melhor gerir os transportes de passageiros ao nível da da edilidade.

GOLPES E APROVEITAMENTOS DE OBRA ALHEIA

Ao que se sabe, Manuel Araújo ensaiou, isso sim, um aproveitamento político no que concerne às grandes intervenções efectuadas pelo Governo central na cidade de Quelimane no que diz respeito à construção das valas de drenagem, saneamento do meio e reabilitação de algumas estradas, o que aos olhos de alguns munícipes incautos ou pouco informados “sempre pareceu que o Araújo é que era o promotor de tais obras” .

Na verdade, trata-se de um programa do Governo da Frelimo, representado pelo Ministério da Planificação e Desenvolvimento (MPD), no âmbito de um acordo de financiamento rubricado pelo governo norte-americano, representado pelo “Millennium Challenge Corporation”, implementado pelo município de Quelimane desde a gestão de Pio Matos e continuado pelo governo pós-eleições intercalares de 2011.

De acordo com as evidências documentais e o cronograma a que o domingo teve acesso, o concurso foi lançado a 31 de Dezembro de 2008 e a 19 de Fevereiro de 2009 deu-se a abertura da proposta de consultoria, cujo contrato viria a ser assinado a 30 de Julho de 2009. O consultor selecionado foi Louis Berger SAS e o início do estudo de viabilidade aconteceu em Setembro do mesmo ano e veio a terminar em Outubro de 2010. Em Novembro do mesmo ano começou o projecto executivo que terminou em Marco de 2011

Para a segunda fase, da implementação das obras, o concurso foi lançado a 20 de Julho de 2011 e a 28 de Setembro do mesmo ano assinou-se o contrato. O empreiteiro seleccionado foi a CMC /CETA e as obras tiveram o seu início a 24 de Outubro de 2011 (até aqui Manuel Araújo não era edil de Quelimane, pois ainda não haviam sido realizadas eleições intercalares.

Fonte do MPD assegurou-nos que a construção da drenagem implicava a abertura de fendas e crateras nas estradas, o que obrigou o Governo a fazer trabalhos adicionais de pavimentação e resselagem de mais de 10 quilómetros de estrada e outros trabalhos não previstos, tais como, construção de 1.6 quilómetros de colectores de drenagem pluvial, construção de 550 metros de canais abertos, incluindo atravessamento, construção de 12 atravessamento de viaturas.

 Importa referir que o acordo de financiamento nesse sentido foi assinado em 2006 pelo Presidente da República, Armando Guebuza, na cidade de Baltimore, Estado de Maryland , nos Estados Unidos de América ( EUA).

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