Parcialidade confirmativa é um novo termo introduzido na psicologia para entender, principalmente a justificação da fé nas religiões. Isto é, serve para compreender e ou explicar porque certos actos são considerados obras de Deus num universo superior estatisticamente a esse acontecimento específico? Como exemplo, num acidente de viação de uma chapa, morrem 14 pessoas, e somente se salva um. Os crentes vão certamente dizer que este salvamento foi um milagre! O crente não vai falar dos 14 mortos porque precisa de confirmar a sua crença! Escolhe uma parte para essa confirmação. Este acto é normalmente inconsciente e involuntário.
Por outro lado, indignação selectiva é um acto de escolha consciente, em que seleccionamos cinicamente que acontecimento é que podemos criticar e qual é que devemos elogiar. Esta escolha não segue a razão, mas somente serve como raiz para cimentar o nosso ódio a certas pessoas, grupo de pessoas ou mesmo estado de espírito, e cria um mundo á parte que vai coleccionando essas mentiras, que um dia substituem a verdade, passando o “seleccionador selectivo” a acreditar cegamente nisso. O mal disto é o exacerbar do ódio, do maldizer e da negatividade, não somente perante o nosso “inimigo”, mas também na nossa vivência quotidiana.
Esta introdução vem a propósito das reacções que se seguiram á ocupação de Satunjira pelas Forcas de Defesa e Segurança (FDS), que pelo visto acordou, não só as Organizações da Sociedade Civil (OSC), mas certos consulados que estiveram a dormir desde a eclosão desta crise.
Houve, antes desta ocupação, muitos ataques protagonizados pela Renamo, que fizeram vitimas (diferentemente desta ocupação), porém nenhum dessas OSC vieram ao terreiro lançar comunicados ou apelar para que se tenha calma e se regresse à mesa das negociações.
Quando no dia 04 de Abril os homens armados da Renamo atacaram e mataram 4 agentes da FIR, houve um silêncio tumular sobre este acontecimento; Quando se atacou um camião-cisterna e se queimou duas pessoas dentro dele, nenhuma OSC foi tão pujante como agora nos mostram e nenhuma embaixada emitiu nenhum comunicado, nem de duas linhas para consolar as famílias enlutadas; Quando no mesmo dia a Renamo atacou dois autocarros de passageiros, ninguém veio a publico pedir para este partido (?) empenhar-se mais nas negociações e deixar a via armada.
Quando no dia 21 de Junho a Renamo queimou viaturas, tendo morrido uma senhora que era garante do financiamento da faculdade de um filho; e mais outras duas pessoas, sem deixar de contar com aquela criança de apenas duas semanas de vida que foi atirada para o chão como se de bagagem se tratasse, tendo contraído ferimentos graveis, nenhum desses embaixadores e nenhuma “activista de direitos humanos” veio falar patavina sobre o assunto, nem condenando os ataques, e muito menos consolando as famílias enlutadas!
Estes acontecimentos passaram despercebidos às puritanas OSC e a certas embaixadas pacíficas que agora se desdobram em comunicados procurando encostar o Governo na total inacção! Para estes grupos seria lógico se a Renamo continuasse a atacar e matar civis; se continuasse a atacar posições das FDS e a matar membros, talvez ai é que o ambiente seria o ideal, e não haveria necessidade de se lançar nenhum tipo de comunicado.
Estes já demonstraram o que realmente são, porque para eles, é lógico que a Renamo ataque e mate moçambicanos civis e militares, mas já o Governo não pode usar as FDS para garantir a segurança das pessoas. Para eles o Governo deve deixar a Renamo matar pessoas e demonstrar que o Governo não tem capacidade de agir sobre estes assassinos!
Talvez a inacção do Governo agrade a eles, porém não agrada às pessoas que precisam de transitar de norte a sul e vice-versa para fazer seus negócios; não agrada aos familiares das pessoas que foram mortas pela Renamo tentando criar o bem-estar para as suas famílias; não agrada aos familiares dos soldados e policias que foram destacados para aquele local; não agrada a cidadãos de bom senso que precisam de uma paz efectiva!
Isso até pode parecer uma indignação selectiva, mas a verdade essas OSC, essas embaixadas convenientes sofrem de parcialidade confirmativa, uma vez que esta crença ultrapassa até os níveis do seu julgamento e da sua razão. Esta crença que os fez escolher acontecimentos para se indignar, deriva de uma crença enraizada no subconsciente, que deve ser confirmada, e na ausência dessa confirmação, eles devem se indignar!
Precisam de um certo ambiente para levar avante a sua fé!
A Renamo como partido político não pode arrogar-se ao direito e poder de matar pessoas, nem de condicionar a circulação de pessoas e bens pelo território moçambicano! Não se pode dar essa confirmação que estas OSC e essas embaixadas dão, de que ela é que pode matar pessoas, mas que o Governo não pode retaliar quando suas forcas são atacadas!
Deixem-se de hipocrisia, a vida de qualquer ser humano merece a nossa indignação, e merece também comunicados de imprensa e passeatas de repúdio, de modo a mostrarmos que somos humanos a cem porcento e não temos rixas psicológicas com ninguém! Aliás, mesmo tendo essas rixas psicológicas, não podemos deixar a nossa moral cair até não sentirmos em nada a morte de um semelhante.
Temos que ser realistas e olharmos para os acontecimentos desde a sua génese e não somente escolher a página que nos beneficia e que nos deixa “folgados”. Temos que ser, antes de parciais, humanos, que é isso que é mais importante neste momento. Vamos indignar-nos completamente e não parcialmente, sob o risco de arrancarmos a nossa máscara e deixarmos cá para fora a nossa verdadeira face.
Que face terrível e vampírica! Face de autênticos fariseus!
Pela paz, a luta continua!