A Companhia Municipal de Canto e Dança da Matola (CMCDM) celebra, em Novembro próximo, quinze anos de existência. A celebração foi pretexto para conversarmos com Rafael Manhique, Director
artístico da companhia que, falou das dificuldades, êxitos, obras e planos futuros do grupo.
Criada em 1998, fruto de um sonho de se ter grupo cultural genuinamente “matolense”, a CMCDM resultou de uma fusão de vários grupos de canto e dança que existiam na Matola, na década 90, sendo de maior destaque o “Kwangua la tilo”, que traduzido significa “arco-íris”. O grupo conta actualmente com 25 membros.
Rafael Manhique, director artístico da CDMCM, revelou que a companhia tem estado a enfrentar problemas de espaço para os seus ensaios e actuações. “ Estamos numa fase de pouca produção, pois não temos infra-estruturas próprias que nos permitam fazer grandes criações e novas obras, disse.
Manhique afirmou que o facto de não existirem opções de espaços torna difícil a apresentação das poucas criações artísticas da companhia, o que de certa forma causa uma monotonia pois, nas raras ocasiões em que é possível actuar, o grupo recorre apenas ao Auditório do Cinema 700.
Prosseguindo, o nosso entrevistado revelou que a escassez de centros artísticos limita igualmente a sobrevivência de outros grupos locais, facto que concorre para a extinção dos mesmos.
SEM SUSTENTO
Outro obstáculo com que este agrupamento cultural se depara, segundo o seu líder, é a falta de capacidade financeira para cobrir despesas de deslocação a diferentes pontos da província e do país com a finalidade de tomar contacto com outras formas artísticas, bem como para o arrendamento de espaços para ensaios e salas para temporadas de exibição.
“No início, até tínhamos patrocínio de algumas empresas internacionais como a Colgate e Palmolive, o que nos ajudava a pagar os integrantes da companhia e na compra de instrumentos. Mas depois de algum tempo aquelas instituições deixaram de nos apoiar, daí que passamos a depender do Conselho Municipal da Matola. Gostaríamos de ter uma certa independência financeira para sermos capazes de implementar os nossos projectos”, disse.
A CMCDM conta, actualmente, com oito bailados: Xipamanine, resultado do intercâmbio entre Matola e São Paulo – Brasil, o Grupo Tam Teatro; Noy (Feiticeiro); Nhamusokwane (Epidemia); Xisaka (Ninho); Thandy (Mensageira do Amor); Ndzingo (Tragédia); Nguiana (Coroa), maioritariamente apresentados ao público a pedido da edilidade.
Esta colectividade já participou em alguns festivais nacionais e internacionais sendo de destacar os decorridos em 2010, na VII Edição do Festival Intermunicipal de Cidades Geminadas (Matola, Mbabane, Nkonzi e Mbombela), na Cidade de Mbombela, na África do Sul; 2009 no Festival Villes de Music do Mundo em França; e no mesmo ano participou no VI Festival Intermunicipal na Cidade de Mbabane, aquando da preparação do Mundial de Futebol 2010, na África do Sul.
POR outro lado, a companhia da Matola participou no Festival alusivo às comemorações da Revolução Alphathe, em Tripoli, na Líbia, e em 2000 no Festival Folclórico dos Países Lusófonos de Espinho, em Portugal.
O nosso entrevistado lamentou o facto de raramente serem solicitados para participar em shows dentro do país. Refira-se que a CMCDM preserva nas suas peças ritmo e movimentos de danças tradicionais dentro dos valores culturais da Matola e do país.
Quanto aos prémios, a companhia já ganhou alguns e diversas distinções. Em 2011mereceu um Diploma de Mérito atribuído como reconhecimento do apoio prestado à JABEM (Juventude Associada para o Benefício da Matola). Em 2010 teve uma medalha Municipal de Mérito Cultural e Educação, no âmbito da celebração do 38º aniversário de elevação da Matola à categoria de cidade.
Segundo Manhique, em 2010 este grupo recebeu o certificado de participação “The Cultural Programme During the 2010 FIFA World Cup”. Em 2009 recebeu a medalha Municipal de Mérito Cultural e Educação, também no âmbito da celebração do 37º aniversário de elevação da Matola à categoria de cidade e no ano 2001 obtive ainda a certificação pela participação no Festival Cultural de Trípoli na Líbia.
Em 2000 recebeu o diploma de Mérito como Melhor Grupo Participante do Festival Folclórico dos Países Lusófonos de Espinho em Portugal.
ESTAMOS A FORMAR CRIANÇAS
Apesar de tantos desafios, a companhia continua a trabalhar e actualmente está numa árdua batalha com vista a deixar o seu legado aos mais novos através da formação de crianças de 7 a 15 anos que se candidatam de forma livre. Na mesma senda, parte dos membros da companhia procuram talentos em escolas primárias daquele município.
Segundo Manhique, o projecto de formação visa revitalizar a companhia. “É importante deixar o nosso legado, por isso buscamos crianças para ensiná-las, pois com o passar dos anos não poderemos continuar a fazer o nosso trabalho e elas é que vão nos representar”.
Através dessa iniciativa, a CMCDM já tem algumas crianças com idades compreendidas entre 7 a 10 anos integrados no grupo, às quais é exigido que se dediquem com primazia aos estudos. “Nós gostamos das crianças, mas acima de tudo procuramos ensinar que não é só de dança que vão sobreviver, por isso é necessário que estudem, daí que condicionamos o seu ingresso ao grupo”.
A companhia pretende criar um núcleo de formação nas escolas em matérias de música e danças tradicionais. “Temos um projecto que consiste na busca de 600 crianças em seis escolas aqui da província e algumas delas farão parte da companhia. Só não arrancamos ainda devido à falta de fundos.”