Muito se comenta e fala sobre recursos naturais, uns extasiando-se a propósito deles e outros amaldiçoando-os.Quero justapor reflexões do quotidiano, o que o olhar e os ouvidos de todos nós
captam. Preocupações de quem apalpa o sentimento das pessoas, circulando em várias partes deste nosso país, tão querido e desejoso de progresso. O imperativo de bom senso e de não nos deixarmos embalar pelas canções daqueles que olhando para Moçambique só vêm o que podem tirar de lucros, quanto mais fabulosos, melhor.
Durante séculos os africanos viveram oprimidos na sua terra. As suas riquezas representavam um fardo que os sufocava e faziam sangrar. Contra colares de missangas chefes venais tudo venderam.
Muitas gerações lutaram para pôr termo ao sofrimento. Houve os que morreram nos castigos e nas deportações para São Tomé e Angola, nas prisões e sob a tortura. Os que sabiam escrever, nos seus textos e poemas exprimiam a dor e a vontade de se libertarem. João Dias, os irmãos Albasini, Noémia de Sousa, Craveirinha, Marcelino dos Santos e tantos outros pelo pensamento e escrita semearam a vontade de sair-se dos subterrâneos da vida e da liberdade.
Na segunda parte dos anos cinquenta do século passado nas colónias portuguesas emergiu o movimento nacionalista, tardiamente em relação a toda a África. O contexto colonial-fascista em que se vivia explica os porquês do atraso.
Na nossa pátria a palavra de ordem lançada pela FRELIMO desde a sua criação em 1962, vai bem meio século, afirmava a razão de ser da luta:
Libertar a Terra e os Homens.
Inicia-se a ocupação da África pelos colonos quando na Europa começa a industrialização e se descobre que no continente existe o ferro e o carvão, o cobre, ouro e metais preciosos e, igualmente, terras férteis em abundância capazes de satisfazer os filhos segundos da nobreza e os sem terra.
Começam guerras até entre brancos, o império britânico buscando o ouro e os colonos bóeres defendendo as terras. Cecil Rhodes sonha estender o império do Cabo ao Cairo, anexar a Beira.
O continente, com algumas exceções, libertou-se da dominação colonial no final da década de cinquenta e princípios da de sessenta no século passado.
A África Austral surge como a mais notável das exceções. Apenas em meados de setenta Angola e Moçambique libertam-se. A Guiné (B) porque colónia portuguesa, tal como Cabo Verde e São Tomé viram as suas libertações atrasadas pelo conflito que opunha Portugal aos povos de Angola e Moçambique, joias da coroa no sul do continente.
Todos estes países, África do Sul, Angola, Moçambique, Namíbia e Zimbabué viram-se forçados a pegarem em armas para liquidar a dominação iníqua.
A revolta dos Capitães de Abril contra os sofrimentos que lhes impunha a guerra portuguesa e a eminência da derrota militar fez cair o colonialismo nos nossos países em 1975. O Zimbabué libertou-se em 1980, a Namíbia em 90 e a África do Sul só verá o fim do apartheid em 1992. Todos beneficiaram da solidariedade moçambicana e angolana.
Inúmeras as condenações das Nações Unidas e da comunidade internacional contra o colonialismo português, a ocupação ilegal da Namíbia, o apartheid e o regime rodesiano. Muito pouco ou nulo o efeito prático. Até se dotou o apartheid de armas nucleares!
Na Europa, com excepção dos países nórdicos e da Holanda, continuou-se a fornecer armas e investir na iniquidade. No Leste, a Polónia e a Checoslováquia, em nome do negócio e contra a solidariedade declarada, venderam a Portugal navios e camiões para o transporte de tropas.
O Reino Unido embora houvesse declarado ilegal o regime de Smith, pouco ou nada fez efetivamente para por termo à rebelião dos colonos.
O Primeiro Mundo continuou a armar, financiar e apoiar a iniquidade. Com o apoio francês e israelita em especial, a África do Sul acedeu ao armamento nuclear. Mandela esteve inscrito na lista dos terroristas nos Estados Unidos.
A defesa da infâmia não se explica porque havia brancos na África Austral. A guerra anglo-bóer travou-se entre brancos. No Quénia havia uma população branca mas acedeu à independência. Na Argélia havia um milhão de colonos, mas a França, garantidos os acessos ao petróleo e gás em 1962 aceitou a independência argelina.
Recapitularmos os factos, não cair nas amnésias ajuda-nos a precavermo-nos de muitos males e, sobretudo, não nos deixarmos embalar pelas canções de adormecer das benesses das transnacionais e das ajudas do Primeiro-Mundo. Devemos com todos nos relacionarmos, com todos buscarmos as melhores parcerias, mas não deixar que alguém nos cubra de ilusões, e de novo, entreguemos o muito contra um colar de missangas.
Um abraço à lucidez,
Sérgio Vieira
P.S. Há jornais e jornais, independentes e dependentes.
Apenas uma vez na vida li uma tese de licenciatura num jornal não científico e, diga-se, uma tese vulgar de Lineu. Apenas uma vez li num semanário uma página inteira com a biografia de um funcionário superior, ainda que um entre muitos do mesmo nível. Não consagrou esse semanário uma página inteira a biografias de Presidentes da Assembleia da República, Primeiros-Ministros, Presidentes do Tribunal Supremo, Conselho Constitucional, Procurador-Geral da República, Ministros, Governadores.
Estaremos perante uma auto promoção paga ou patrocinada? Certamente que se trata de cretinice ridícula!
Um abraço à modéstia e bom senso,
SV
R.P.S. Então o rapaz quer dar ordens ao Chefe do Estado?
Desarmar os polícias para os gatunos, violadores e assassinos estarem à vontade? Quando se clama por diálogo, não-violência, referimo-nos a quê?
Um abraço à clareza e por favor, basta de banalidades,
SV