“Os Saberes Locais e o Novo Currículo do Ensino Básico em Moçambique”é o título da obra de Guilherme Basílio lançada na passada quinta-feira, em Maputo. Resultante de uma pesquisa realizada
nas escolas primárias completa 7 de Abril e Monapo-Sede, província de Nampula, o livro traz, em 86 páginas, a reflexão sobre a inclusão dos saberes locais no currículo nacional.
Guilherme Basílio, autor da obra, expõe com clareza a conceituação, tipologias, fundamentação dos saberes locais e os processos para o ensino dos valores e tradições culturais locais na escola básica. Por outro lado, avalia com perspicácia a política, inovações, estrutura do novo currículo oficial e o impacto deles no ensino básico em Moçambique.
Segundo Basílio, os saberes locais são construídos e socializados pelas comunidades. Estes podem ser abordados como temas transversais no currículo e são um conjunto de conhecimento, práticas, atitudes, habilidades e experiências que se partilham no quotidiano. São ainda transmitidos nas escolas devido a sua relevância para aprendizagem e o seu significado cultural.
“A escolha deste tema tem duas razões, a primeira prende-se ao facto da escola estar virada para o reconhecimento da diversidade cultural, das culturas locais e os saberes nelas veiculados. Nesta razão articulada com a experiência da docência vê-se uma necessidade de casar os saberes culturais locais com os saberes curriculares, para tornar a prática pedagógica mais próxima do aluno”, disse Guilherme Basílio.
Acrescentou ainda que “a segunda razão está marcada pela experiência vivida e o conhecimento adquirido através de leituras. Com a mesma (razão) o pressuposto é de que o trabalho terá uma orientação etnográfica constituindo-se na apreensão e interpretação dos saberes locais.”
O livro é uma dissertação de mestrado do autor e apresenta uma reflexão sobre os processos de construção, legitimidade e integração dos saberes locais na escola, em Moçambique. Inspirado pelas transformações curriculares do Ensino Básico operadas em 2003, Basílio levanta um debate sobre o conhecimento que a escola socializa e o seu vínculo com as práticas culturais dos alunos, convida os professores a responsabilizarem-se pela construção do saber.
O escritor aborda ainda questões de interesse nacional e internacional, pois propõe o resgate de saberes culturais locais com o objectivo de situar a aprendizagem no espaço vivido e estabelecer um vínculo indissociável entre o saber escolar e o saber tradicional nativa.
“O interesse pela comunidade tem como objectivo estabelecer as relações de diálogo entre a própria comunidade e a escola, entre os saberes locais das comunidades e os saberes universais para o desenvolvimento da prática educativa”, frisou.
Guilherme Basílio é doutor em Educação, Mestre em Educação e é licenciado em Ensino de filosofia. Actualmente é Director-Adjunto da Faculdade de Ciências da Universidade Pedagógica.
