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O avaro e o tolo

Por admin

A zona centro do país fervilha. Tiros para cá. Tiros para ali. Emoções à parte, a situação está a ficar feia. Bula Bula está a pensar em retirar os vários projectos de desenvolvimento que tinha para

 aquela região que incluem, de entre vários, a instalação de uma fábrica de processamento de ananás em Muxungué e uma empresa de transportes terrestres. Não dá para arriscar… são muitos meticais economizados desde 1992 para serem desbaratados assim de qualquer maneira…

Ao que se diz, a razão de tudo é um desaguisado entre o Governo e a Renamo. Bolas. O que é que eu, simples mortal a quem os progenitores deram o simpático nome de Bula Bula, tenho a ver com esse assunto? Caramba… tudo que eu quero é viver em paz nesta terra que já foi lavada de sangue até a exaustão.

As notícias que chegam são arrepiantes. Há mortos, feridos e destruição de bens. Dizem que tudo é em nome da liberdade. Que a confusão visa libertar o povo do jugo opressor de quem dirige o país. Bula Bula questiona-se: libertar matando? Para depois governar a quem? Aos mortos?

Muitas vezes fala-se de subdesenvolvimento. Compara-se a nossa realidade com a de outros países. Esquecem-se, os que fazem essas comparações, que os referidos países estão sem guerras há mais de meio século… outros há mais de dois séculos. Outros ainda desde que existem… Entre nós, fala-se de desenvolvimento ao mesmo tempo que se empunham bazucas. É possível mesmo fazer-se uma machamba sem se ter a certeza de acordar inteiro no dia seguinte?

Mas esta nossa confusão – de pobres, diga-se – tem um aspecto interessante. Como os países desenvolvidos, também temos a nossa guerra tecnológica. Tal e qual os americanos usam drones (armas inteligentes) também nós temos os nossos drones; melhor os nossos celulares… é que a guerra (terá outro nome isto?) está sendo teleguiada a partir de Maputo. Os homens que a decidiram estão em Maputo e os executores em Sofala. A super-inteligência permite aos estrategas, instalados em casas de alvenaria com piscinas na cidade capital, orientarem os ataques “cirúrgicos” contra alvos civis e militares a centenas de quilómetros… graças a um simples telefone.

É mais ou menos do tipo – enquanto se comem algumas bifanas em plena Julius Nyerere – discar um número e dizer: “hoje cortem a ligação sul-centro do país. Boa sorte. Estou de olho em vocês! No Jornal da noite vou controlar se estão ou não a trabalhar conforme”. E depois continuar a sorver uma cervejinha gelada.

Sun Tzu, autor do celebre livro A Arte da Guerra diz que “o verdadeiro método, quando se tem homens sob as nossas ordens, consiste em utilizar o avaro e o tolo, o sábio e o corajoso, e em dar a cada um a responsabilidade adequada”(o sublinhado é do Bula Bula).

Certíssimo. De outro modo como se pode compreender que homens de barba rija, aceitem arriscar as suas vidas, enquanto quem lhes manda está de calções e chinelos a passear-se pela cidade num carrão? Acaso pensam aqueles alcançar as mesmas benesses?

Drone por drone, o avaro e o tolo comunicam-se por celular…

 

 

 

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