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População refaz-se dos ataques da Renamo

Por admin

Depois de alguns dias de pânico e terror, na sequência dos recentes ataques perpetrados por supostos guerrilheiros da Renamo ao paiol das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM),

 cerca das 4 horas da passada segunda-feira, a vida da população do posto administrativo de Savane, distrito de Dondo, província de Sofala, está paulatinamente a voltar à normalidade.


A nossa reportagem esteve no Dondo na passada quarta-feira e pôde testemunhar que depois dos ataques em que perderam a vida setes soldados destacados para garantir a segurança daquele armazém de material bélico, e que resultaram também em feridos graves e ligeiros de outros, persiste o clima de medo. No entanto já se regista o regresso de pessoas que, devidos aos ataques, haviam-se refugiado nas vilas de Dondo e Mafambisse e também na cidade da Beira, entre outros pontos da província.

Alguns estabelecimentos comerciais, instituições públicas e privadas,
que durante alguns dias ficaram encerradas, já se encontram abertas e
as actividades decorrem na normalidade. Entretanto, destaque-se que, naquele trágico dia do assalto ao paiol, o hospital da sede do posto foi a única instituição que não paralisou as suas actividades.

Nas instituições de ensino, depois da fuga dos professores e alunos devido aos ataques, o regresso às escolas apenas começou a ser considerável, a partir da quarta-feira última, dia da nossa estada no local.
A título de exemplo, na Escola Primária Completa de Savane, domingoficou a saber, em conversa com um professor que pediu o anonimato, que, de um total de
mil e 114 alunos dos dois turnos (manhã e tarde), apenas 49 educandos é
que tinham comparecido às aulas naquele dia. Explicou que muitas crianças continuam fugitivas, juntamente com os seus pais e encarregados de educação.
“A maioria dos professores está aqui. Os alunos é que não aparecem, porque ainda estão na companhia dos seus familiares que também fugiram naquele dia do ataque”, disse aquele docente, que adiante referiu que “a direcção da escola está a trabalhar no sentido de esclarecer aos alunos, pais e encarregados de educação que o problema foi ultrapassado e já podem mandar os seus educandos à escola”.

Madrugada de pavor

Em conversa com a nossa Reportagem, os residentes de Savane contaram que a madrugada daquela segunda-feira foi de pavor e ficará registada na sua história. Marcelino Chimica, um dos residentes do bairro Milha 20, local onde está situado o paiol, disse que quando ouviu o primeiro tiro pensou que fosse uma actividade de rotina dos militares. E uma vez que a sua residência situa-se a uma altitude, da qual é possível visualizar a zona do paiol, assistiu ao fogo cruzado entre as duas forças.

Depois disso, “chamei a minha família e fugimos. Ouvimos muitos gritos, enquanto íamos até à zona da sede do posto à procura de socorro. Minutos depois, vimos a entrada de viatura carregadas de militares em direcção ao paiol, mas já era tarde demais”, narrou Chimica.
Já na sede do posto administrativo, continuou a nossa fonte, momentos depois dos disparos, foi emitida uma ordem oficial no sentido de retornarem aos seus locais de residência.

A nossa reportagem conversou também, com Benjamim Sozinho, de 43 anos, alfaiate, residente em Savane, há 12 anos. Contou-nos que muitas pessoas saíram para outras zonas, “por se terem assustado com o número elevado de carros militares que seguiram em direcção ao paiol, aquando dos ataques”. Aquele residente revelou, ainda, que a população daquela zona está agastada com o que aconteceu, pois “não se explica, numa altura destas, que o povo tenha que viver tenso. Estamos muito preocupados, porque não sabemos se realmente não haverá mais ataques. É que não podemos dormir sem
saber se havemos de acordar ou não no dia seguinte. Regressamos às nossas casas, mas ainda não estamos seguros”, desabafou Benjamim Sozinho.

Por sua vez, Luísa Raposo, vendedora no mercado local afirmou que os moçambicanos não querem voltar à guerra. Assim sendo, as partes devem sentar-se à mesma mesa para resolverem o problema. Os acontecimentos de Savane e Muxungué, segundo ela, fizeram-lhe recordar os 16 anos de guerra civil em que “muitos compatriotas nossos, na sua maioria inocentes, perderam a vida”.
Explicou que apesar da calma que se vive agora naquela zona depois do ataque, ainda não há sossego total, principalmente no período nocturno. “Durante o dia estamos bem. A coisa torna-se mais difícil durante a noite. Até às 18 horas a sede do posto fica em silêncio, porque há recolher obrigatório. A população está com medo, pior porque não temos energia eléctrica. Tudo fica escuro e ninguém sabe com quem está a cruzar-se durante a noite. Aqui na sede do posto, o único gerador existente não funciona por falta de fundos. Estamos mal, mesmo os nossos negócios não andam bem, porque muita gente ainda não regressou. Ao governo e à Renamo, estamos a pedir: não queremos mais guerra favor”, disse Luísa Raposo.

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