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Em casa de ferreiro, espeto de pau

Por admin

A sabedoria chinesa diz que uma meia verdade equivale a uma mentira inteira. É verdade. Ademais, quem tem martelo, pensa que à volta de si só há pregos. Bula-Bula está completamente

 grogue. Campeia por aí meia dúzia de videntes com poderes suficientes para adivinharem o que é que se come em casa alheia. Vejam lá só que no meio do delicado clima que se vive no país por conta da greve dos médicos e outro pessoal da Saúde – com uns a exigirem mola que os outros dizem não ter – aparecem alguns iluminados a dizer que sabem que há “taco” para satisfazer as exigências dos médicos. Que havia cabimento orçamental para o efeito e que tal só não acontecia por maldades de outros.

Incrível. Como pode alguém saber quanto é que eu tenho no meu cofre? E ainda por cima arvorar-se no direito de fazer pronunciamentos públicos sobre o assunto ainda por cima em momento delicado?

A coisa agitou gregos e troianos. Afinal há mola?! Agora é que vamos fazer finca pé… mas, como não há duas sem três, os mesmos iluminados já vieram a terreiro dizer que afinal estavam equivocados. Que não era bem assim… mas os estragos já estavam feitos; ainda por cima em palha seca que é, como quem diz, terreno fértil para toda a sorte de balelas e fogueiras.

Há, nos cânones da diplomacia, uma figura chamada “ingerência”. Desta vez foi “ingerência grosseira”, bicho complicado este que normalmente afecta os que se consideram “poderosos”. Eles se arvoram conhecedores dos segredos que os outros nem às suas sombras contam… e sabe-se que nestas coisas de contar contos, aumentam-se pontos… mas nem sempre!

Infelizmente, pessoas – ou instituições – que proclamam estas coisas costumam ser seguidas facilmente. A sabedoria chinesa já conclamava há séculos que as más companhias são como um mercado de peixe: acabamos por nos acostumar ao mau cheiro… Não é Mr. Victor Lledó?

 

Andam por aí uns repórteres

em “serviços mínimos”

Numa espécie de quadrado arredondado circula um zumbido que, como todo o murmúrio, tem tudo para se transformar num reboliço, assim como desvanecer suave e sorrateiramente como surgiu. Mas, por ora, o zoado soma um bom par de dias, com braçadas largas para uma mensalidade e até o mais distraído telespectador já notou que algo vai mal.

Chamam-lhe “espectaculosa”, por ser onde se noticia com prontidão e seriedade que “uma mão humana foi achada esta manhã por crianças do bairro Inhagóia, em Maputo. Boa noite está a começar o Jornal da Noite.

Vinte e quatro horas depois, o mesmo rosto, com a mesma seriedade e prontidão, anuncia que “a mão humana encontrada ontem no Bairro Inhagóia, em Maputo, afinal, é um tubérculo. Boa noite está a começar o Jornal da Noite.

Também podemos ter um noticiário que começa com algo do tipo “o fogo está a arder num armazém da Motorcare” ou com um dito popular às avessas: “depois da bonança vem a tempestade”. A ter em conta que a Imprensa tem a função de informar, formar e recrear, percebe-se que aqui se desaprende e deforma um pouco, mas com elegância e muito estilo.

Mas é a má-língua que preocupa, pois, repórteres e técnicos da tal “espectaculosa” andam de costas voltadas com a Família Unida por esta não fazer valer um dos desígnios que diz defender, que é a justiça, sobretudo no quesito salários e carga horária.

Tem repórteres que “carregam o piano” mas, ao final do mês, têm um salário que faz lembrar um suborno, daqueles que só se levanta de uma vez no ATM e no mês seguinte já não há como se lembrar do PIN. Enquanto isso, outros trabalham com luvas brancas e ganham para férias no Caribe.  

Certo adágio reza que “em casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão” e vai daí que, sem fazer barulho, a rapaziada entendeu criar uma frente sindical à sua maneira, denominada por “serviços mínimos” e caracterizada pela troca de peças no famigerado Jornal da Noite.

O pivot ou âncora, que em linguagem televisiva significa jornalista que apresenta o noticiário, com cara simpática anuncia uma peça e o telespectador vê outra. No final vem aquele enfadonho pedido de desculpas. A peça seguinte é anunciada e o telespectador vê outra, mais outras desculpas, e por aí em diante.

Ao que chegou a Bula-Bula, o assunto foi retalhado num encontro com um tal Grupo Imprensa, lá das origens de Camões e Vasco da Gama, porém, não passou disso. A Família Unida continuou fechada em copas, deixando aos repórteres e técnicos uma única saída. Manter os “serviços mínimos” até que a morte os separe.

 

Perguntar à Igreja ofende?

Há poucas luas, muitos cristãos católicos receberam com uma mescla de júbilo e pontos de interrogação a nomeação de um novo prelado para a Diocese da Beira, na província de Sofala, até então conduzida pelo amigo particular de Bula-bula, Dom Jaime Gonçalves, que, naquele tempo, não ocultava as suas posições políticas a ponto de animar alguns debates extra-religiosos.

Houve júbilo porque uma diocese sem Bispo se torna carente de um guia, de um líder espiritual como São Pedro junto dos apóstolos após a ressurreição de Jesus. Mas, os pontos de interrogação pingaram nas cabeças dos fiéis, como as línguas de fogo do Pentecostes. Tudo porque o novo bispo era argentino. Porquê um bispo argentino. Não temos capacidades cá dentro?

A oração fez o seu papel. Quem somos nós diante dos desígnios divinos? A vida voltou a seguir o seu rumo e a igreja continuou igreja. Tudo na devida Paz do Senhor que nos perdoa os pecados e nos apela ao amor, ao perdão e à reconciliação.

Entretanto, há dias, um novo bispo é anunciado para dirigir a diocese de Pemba. Mais júbilo e velhas interrogações. Trata-se de um prelado brasileiro. Bula-bula não é dado a meter a colher em ceara alheia, pior em assuntos de cariz religioso, mas, se perguntar não ofende, porquê um bispo brasileiro e não um moçambicano? É só uma pergunta!

Numa sociedade como a nossa, onde muitos valores se perdem nos chapas, nos engarrafamentos e barracas, onde o palavrão caminha solto, o álcool é servido a quem só largou a mamadeira, a virgindade e a castidade parecem não merecer o mínimo elogio e a honestidade perde por goleada perante a malandragem, é natural que haja poucos vocacionados.

Por causa disso, pais entram em pânico perante um filho ou filha que anuncia que pretende seguir a vida religiosa. Para quê? Perguntam atirados ao desânimo. Mas há por cá quem segue em frente e se torna um exemplo. É sobre esses que Bula-bula se interroga. Onde estão? Ou será que os nossos sacerdotes também são bispos na Argentina e no Brasil?

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