Início » Morte de “Samora” abalou-me

Morte de “Samora” abalou-me

Por admin

Bucuane teve um xirico a quem deu o nome de “Samora”, em homenagem ao primeiro Presidente de Moçambique, Samora Moisés Machel, perecido a 19 de Outubro de 1986.

Caçou o pássaro na Macia, província de Gaza. No seu entender, a atitude, coragem e rigor daquele pequeno bicho se comparava com as qualidades do Presidente Samora. “Era um pássaro valente, muito viril. No mato bastava “assobiar” três vezes para afugentar os donos do território. Mesmo na escuridão, cantava alto. A sua morte abalou-me bastante. Nesse dia desapareceu-me a vontade de comer. Morreu nas minhas mãos, às zero horas, na passagem do ano de 2001 para 2002. Visivelmente angustiado com a morte do bicho, continuou: Eu tinha aberto uma barraca muito movimentada, o que “Samora” não gostava. Não gostava de grande movimento de pessoas em casa. Cantou, cantou até que a sua garganta rompeu. Daí adoeceu. Dias antes da sua morte, fui com o pássaro passear em casa de um primo, no Zimpeto. Não conseguia conviver nem comer por pensar na saúde de “Samora”. Às vinte horas do dia 31 de Dezembro de 2001 a sua saúde piorou, tendo morrido nas minhas mãos. Não o fui deitar fora. Fui dormir consciente de que perdera um pássaro lutador como um homem. Na manhã do dia seguinte morreu um outro pássaro, que era adjunto de “Samora”.

O nosso interlocutor confessaque ficou abalado. Disse-nos que por pouco não entregou a sua própria vida por causa do desaparecimento de “Samora”. 

 

PÁSSARO QUE TEVE

ENTERRO CONDIGNO

 

Devido ao encanto e carisma que “Samora” suscitara, Bucuane organizou um enterro digno de gente. Teve sepultura de homem no quintal da sua casa.

 “Depois do enterro de “Samora”, pus grãos de mexoeira no seu túmulo, que em duas semanas germinaram”, conta.

Após a morte de “Samora” e seu “adjunto”, tudo indicava que Bucuane estaria “enfeitiçado” e iria desistir de ser criador de pássaros. Ele explica: “Já estive para morrer quando perdi doze pássaros bem preparados. Eu os havia deixado próximos de uma fogueira na qual se cozia feijão-jugo trazido pela minha esposa de Chibuto. Todos ficaram intoxicados pelo fumo, enquanto dormíamos, depois de regressados da igreja. Fiquei uma hora a procurar-me, sem saber o que fazer. Anunciei a infelicidade aos meus amigos. Todos vieram participar nas cerimónias fúnebres dos doze perecidos.”

Para Bucuane era como se tivesse perdido doze filhos ao mesmo tempo. Dois dos mortos haviam custado entre quatrocentos e quatrocentos e cinquenta meticais. Foram comprados em Moamba e Magude.

AMOR EM PLENO VOO

Donde traz a alimentação dos pássaros? – quisemos saber do nosso interlocutor. “A mexoeira para a alimentação dos pássaros compro-a na loja e, por vezes, busco-a em pessoas singulares que trazem-na do norte do país. Há um outro produto que se pode obter na África do Sul, mas a melhor alimentação é a mexoeira”, responde Bucuane.

E como se reproduzem os pássaros, perguntámos, ao que responde: “Aqui em casa não se reproduzem. Só o fazem lá no mato. Precisam de uma grande capoeira onde possam voar. Os pássaros fazem sexo em pleno voo.” 

Você pode também gostar de:

Propriedade da Sociedade do Notícias, SA

Direcção, Redacção e Oficinas Rua Joe Slovo, 55 • C. Postal 327

Capa da semana