Alguns pássaros de maior estimação foram enterrados como se de pessoas se tratasse e jazem em pequenos túmulos no seu quintal
Alguns criam cães, gatos e patos, como bichos de estimação, outros frangos, gansos até porcos. Mas Bento Berlito Ernesto Bucuane, natural de Chibuto, 46 anos de idade, residente no Bairro de Minkadjuine, na cidade de Maputo, é criador de pássaros desde 1987. O “Rei dos Pássaros, como é conhecido, vive na companhia deste tipo de aves, mantendo-as e alimentando-as carinhosamente em gaiolas. Diz que os trata da mesma maneira como o faz com os seus filhos. Fica aflito e procura remédios quando um deles adoece. Chora quando um morre, como quando perdeu “Samora”, o pássaro predilecto, em 2002, cujo funeral foi quase humano.
domingoesteve em casa de Bento Berlito Ernesto Bucuane, no Bairro de Minkadjuine, na cidade de Maputo, não só para ver os passarinhos, como também para conversar com o dono.
A conversa foi demorada e decorreu ao som de chilreios dos cerca de quinhentos passarinhos que ali vivem. O nosso interlocutor fala da vida destas cinco centenas de aves de maneira apaixonada. É como se falasse dos seus próprios filhos.
Em meados da década 80, a vender “qualquer coisa” no Mercado Central de Maputo, passou um velho vendendo um “xirico” engaiolado. Benedito Bucuane comprou o pássaro. Era o seu primeiro pássaro das centenas que hoje possui. “Aos poucos fui gostando de conviver com os passarinhos. Então decidi ser criador de pássaros.”, esclarece.
Hoje por hoje é um homem de se lhe tirar chapéu na criação de pássaros.“O próprio velho que me vendeu o primeiro passarinho, tira o chapéu”, confessa Bucuane.
Segundo o nosso entrevistado, quem mais o motivou a continuar a criar pássaros foi o seu próprio pai, que um dia o fez saber que “também era criador de pássaros.”
Depois da confissão do seu progenitor, Benedito Bucuane disse para si mesmo: “então, se o meu pai criou pássaros, eu posso seguir o seu caminho, sem vergonha”.
MAIS PARA CRIAR
DO QUE PARA VENDER
Bucuane não se define como vendedor de pássaros, contudo não nega satisfazer a quem queira comprar uma ou outra ave, sobretudo para criar.
“Não sou vendedor de pássaros, mas, como acontece com qualquer criador de galinhas, aparece sempre alguém a querer comprar. O que gosto é de conviver com eles. Das vezes que vendi foi para comprar a alimentação deles. E os meus pássaros não passam fome nem sede”, esclarece.
Bento Bucuane explica que foi buscar o amor pelos pássaros na Bíblia, onde aprendeu que os corpos, humano e animal, advêm da mesma areia ou pó. Porém, cabe ao Homem o controlo sobre o animal. É essa “a missão divina” que Bucuane diz estar a cumprir na terra: cuidar de pássaros.
Curiosamente, antes de aprender da Bíblia o respeito e amor por todos os seres vivos, Bucuane, em Gaza, era mestre na caça com fisga de pássaros e passarinhos para comer.
“Agora não posso comer passarinhos, porque estaria a cometer crime, pois sentir-me-ia como se estivesse a comer carne humana”, garante.